Atualmente, a variante do SARS-CoV-2 que começou por ser identificada no Reino Unido representa 48% dos casos registados em Portugal. O Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA) também já detetou quatro casos relativos à mutação originária da África do Sul e sete que dizem respeito à variante associada ao Brasil. Foram igualmente documentados casos de infeção com alterações genéticas semelhantes às da chamada variante da Califórnia em território nacional.
“O que estas variantes têm em comum é que se ligam com mais avidez ao recetor”, destaca o virologista Pedro Simas. A britânica, por exemplo, será cerca de 30% mais contagiosa do que o vírus inicial. No entanto, não parece pôr em causa a eficácia das vacinas.
Já na África do Sul registou-se uma diminuição da eficácia das vacinas. A da farmacêutica Johnson & Johnson, por exemplo, caiu de 72 para 57 por cento e a da Novavax, de 89 para 60 por cento. O investigador do Instituto de Medicina Molecular (iMM) explica que este efeito pode ser sinónimo de a variante sul-africana, ao contrário da britânica, não estar a competir contra outras variantes do vírus, mas a ser mais eficaz a iludir os anticorpos desenvolvidos pelo sistema imunitário, sozinho ou com a ajuda da vacina.
Por um lado, será fácil adaptar as vacinas, se tal for necessário, Por outro, a variante que parece estar a tornar-se dominante, a do Reino Unido, não põe em causa a eficácia da vacina.
Surpreendentemente, essa pode ser uma boa notícia. Significa que o vírus poderá estar a perder plasticidade, o que prejudica a capacidade de se ligar ao hospedeiro, e pode contribuir para que esta variante se limite a um fenómeno geográfico, já que ao mesmo tempo que as mutações da proteína spike interferem com a eficácia das vacinas, também dificultam a sua adaptação ao corpo humano.
Por isso, Pedro Simas diz não estar preocupado. Por um lado, será fácil adaptar as vacinas, se tal for necessário, Por outro, a variante que parece estar a tornar-se dominante é a do Reino Unido que, apesar da maior contagiosidade, não põe em causa a eficácia da vacina.
Ao contrário do influenza, os coronavírus sofrem mutações muito mais lentamente, o que torna pouco provável que sejam capazes de escapar totalmente às vacinas.
E também as células do sistema imunitário B e T podem desenvolver a capacidade de reconhecerem vários fragmentos diferentes dos vírus, o que facilita a deteção do invasor, mesmo que tenha sofrido várias mutações. As células de memória B e T podem rapidamente encontrar semelhanças entre duas versões do vírus e erradicá-lo.
Um estudo publicado no mês passado na revista científica Nature indica que os anticorpos contra a Covid-19 continuam a fortalecer-se ao longo de vários meses, mesmo depois de os doentes estarem curados.
É importante lembrar que as vacinas atuam em consonância com o sistema imunitário e que, juntos, serão mais eficazes a derrotar o vírus.