O confinamento e as medidas de restrição à propagação da pandemia de covid-19 resultaram numa descida do índice de transmissibilidade (Rt) do vírus para valores abaixo de 1, revelou hoje o epidemiologista Baltazar Nunes, do Instituto Ricardo Jorge (INSA).
“O valor que estimamos para o Rt para a média dos últimos cinco dias analisados, que corresponde ao período do dia 30 de janeiro a 03 de fevereiro aponta para um Rt de 0,82. Este é um valor baixo, que indica uma redução da incidência de forma clara. O Rt encontra-se abaixo de 1 em todas as regiões do continente e nos Açores, estando apenas na Madeira com um valor de 1,13, que indica uma fase de crescimento”, frisou.
Na apresentação realizada na reunião do Infarmed (Lisboa) entre especialistas e políticos, o responsável pela Unidade de Investigação Epidemiológica do INSA enfatizou a importância das medidas de restrição aplicadas em meados de janeiro, que se traduziram numa “redução muito mais acentuada da transmissibilidade” do vírus SARS-CoV-2.
“Estávamos com um Rt máximo de 1,24 no dia 04 de janeiro e foi possível trazer o Rt para baixo de 1, estimado para 0,78 para o último dia de análise, no dia 03 de fevereiro”, declarou Baltazar Nunes, acrescentando: “O primeiro pacote de medidas, implementadas a partir de 15 de janeiro, representa uma redução da incidência da ordem dos 2,1% ao dia, traduzindo isto para um tempo de redução para metade de 33 dias, e depois o segundo pacote, onde está incluído o fecho das escolas, que reduziu para metade a cada 9 dias”.
Perante estes dados, o investigador do INSA sublinhou que um prolongamento destas medidas por mais dois meses será essencial para aliviar o nível de ocupação nas unidades de cuidados intensivos dos hospitais e também diminuir o nível de incidência acumulada a 14 dias, que segundo Baltazar Nunes, “ainda se encontra a níveis considerados extremamente elevados”.
“Precisamos de manter estas medidas de confinamento por um período de dois meses para trazer o número de camas ocupadas em cuidados intensivos abaixo das 200 e a incidência acumuladas a 14 dias abaixo dos 60 casos por 100 mil habitantes”, explicou.
Por outro lado, o especialista do INSA assinalou a redução da mobilidade em Portugal por comparação com outros países europeus, ao destacar a evolução de uma maior mobilidade no início do ano para uma situação atual de mobilidade muito reduzida.
“Mais recentemente, a partir de 19 de janeiro — quando as medidas são introduzidas — começámos a ver que Portugal passa para os países com redução de mobilidade e, atualmente, Portugal é o país com uma redução de mobilidade mais acentuada na União Europeia, com uma diminuição na ordem dos 66%”, sentenciou.
Em Portugal, morreram 14.354 pessoas dos 767.919 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
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