Há uma nova luz sobre a forma como o órgão mais complexo do corpo capta memórias e que traz boas notícias para os esquecidos. Segundo um estudo conduzido por Oliver Baumann, da universidade de Bond, em parceria com a Universidade de Queensland, ambas da Austrália, e o Max Planck Centre for Computational Psychiatry and Ageing Research, na Alemanha – e publicado na revista Frontiers and Psychology, tem tudo a ver com a forma como o cérebro reage quando as pessoas encontram uma pessoa (ou um objeto) fora do contexto habitual pela primeira vez.
“Se só costumamos ver aquela pessoa no escritório, o normal é o nosso sistema de memória gerar uma imagem instantânea que funde a pessoa e o espaço em que geralmente a encontramos”, diz o especialista, citado pelo Neurosciences News, considerando depois que se encontramos a mesma pessoa noutro lugar, é perfeitamente normal não a reconhecer. “Só não acontece quando o cérebro reconhece que a pessoa existe, independentemente do lugar em que a conhecemos”.
O exemplo que apresenta clarifica um pouco esta ideia. Ou seja, “se virmos uma árvore e ela estiver associada a uma floresta, então o que o cérebro faz é assumir que não são entidades separadas, codificando-as como uma unidade. E isto, prossegue, assegura que não estamos a sobrecarregar o cérebro e a desperdiçar espaço e energia. “Quer dizer que é intrinsecamente eficiente, mesmo que um pouco preguiçoso”.
No estudo que permitiu chegar a esta conclusão, os voluntários deitaram-se num scanner de ressonância magnética e foram solicitados a memorizar múltiplas imagens de objetos (tais como uma mochila, um relógio ou um bolo) em diferentes fundos (fosse um ginásio, uma lavandaria ou um jardim). Metade das imagens tinha sido mostrada aos participantes no dia anterior – isto, para que fosse possível observar as diferenças nas respostas do cérebro, que as considerou familiares ou avistadas pela primeira vez. Na fase final, os investigadores trocaram os fundos de cada objeto e concluíram que era isso que levava à dificuldade em recordá-los – tudo acompanhado por mudanças de atividade no hipocampo, uma das áreas centrais da memória humana. Para Bauman, a descoberta confirma que o nosso sistema de memória se esforça por ser eficiente e apenas codifica o que necessita em absoluto.
“O esquecimento detetado mostra que o cérebro considera que não devemos codificar mais do que precisamos”, frisou o especialista. “Por exemplo, as pessoas com hipertimesia são aquelas que se lembram de quase tudo na vida. À primeira vista, isto parece uma façanha, mas tem um lado muito negativo, porque essa enorme massa de informação sempre presente acaba por dificultar que se concentrem numa só tarefa”. Assim, insiste Bauman, “esquecer ajuda a arranjar espaço mental e isso, mais uma vez, é tudo uma questão de eficiência”.