A Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (Antram) estima que as empresas podem sofrer perdas diretas superiores a três milhões de euros devido aos motoristas portugueses retidos no Reino Unido.
Em declarações à agência Lusa, o porta-voz da associação, André Matias de Almeida, disse que o balanço da Antram é o de que, “durante estes poucos dias”, as perdas para as empresas possam “ultrapassar os dois, três milhões de euros”.
“Este valor que estamos a avançar é um valor para as perdas diretas, ou seja, são transportes e serviços que não foram realizados, e há, obviamente, todo o conjunto de situações que não pode ser realizado, por os veículos se encontrarem alocados e retidos num determinado espaço, cuja intenção era que circulassem para o espaço europeu e pudessem prestar outros serviços”, explicou o responsável.
De acordo com as informações mais recentes recolhidas pela Antram junto dos seus associados, a circulação dos motoristas portugueses, retidos na fronteira entre o Reino Unido e a França, bloqueados após a identificação de uma nova estirpe do coronavírus, ainda não está a acontecer.
“A informação que temos é que até há duas horas estava a haver alguma circulação, é verdade, os motoristas e os veículos já estão a circular, mas não estão ainda motoristas portugueses em circulação”, adiantou Matias de Almeida.
A Antram disse estar consciente de que a ambição de que aqueles motoristas consigam chegar a Portugal até ao Natal “é cada vez mais longínqua e muito difícil de alcançar”, devido à complexidade logística da operação de testagem para a covid-19 a todos aqueles profissionais.
“A condição para o trânsito é a testagem, que está a decorrer num parque de estacionamento improvisado, onde todos os motoristas que quiserem fazer a circulação serão testados. Isto, como é possível imaginar, quando estamos a falar de cerca de cinco a seis mil camiões, estamos a falar de uma operação logística de grande monta e, nessa medida, acreditamos que essa operação deverá levar o seu tempo e inviabilizar que esses motoristas passem o Natal com as suas famílias”, lamentou o advogado e porta-voz da associação patronal.
Segundo a Antram, a situação mantém-se “muito preocupante” também do ponto de vista humanitário.
“Uma situação que eu gostava de realçar são as condições sanitárias em que aqueles motoristas se encontravam e se encontram a esta data, que está, obviamente, ao arrepio de qualquer regra sanitária da Organização Mundial de Saúde, ou de qualquer Estado-membro da União Europeia”, apontou o advogado.
Sublinhando que há motoristas retidos que estiveram em território inglês apenas “cinco ou seis horas”, a Antram disse não fazer “muito sentido” exigir a apresentação de um teste negativo para a presença de SARS-CoV-2 que tenha sido feito com um mínimo de 72 horas de antecedência.
“Chamamos a atenção para os agentes políticos, por um lado, e económicos, por outro, que aquilo que aconteceu é um precedente gravíssimo no que diz respeito às normas europeias e de circulação de veículos e também ao pânico do ponto de vista humanitário que se pode causar, quando eu deixo milhares de motoristas cuja única forma que têm de ter condições de higiene é o seu próprio veículo”, realçou.
O encerramento da fronteira, ordenado pela França na noite de domingo, em resposta à descoberta de uma nova estirpe do coronavírus em Inglaterra, causou o caos nas áreas próximas dos pontos de travessia do Canal da Mancha, com cerca de 4.000 camionistas, incluindo portugueses, forçados a passar várias noites no interior dos veículos.
Após intensas negociações entre Londres e Paris, França concordou na noite passada reabrir a fronteira e autorizar a passagem de cidadãos franceses, residentes britânicos em França e motoristas de camião, desde que tenham um teste de covid-19 negativo.
MPE (SO) // JNM