Usar máscara e manter a distância de segurança são medidas de mitigação da pandemia consensualmente defendidas pelos especialistas. Mas, neste momento, com um maior regresso aos espaços interiores, é importante perceber que também o local, a forma e as condições em que tais medidas são adotadas podem ser determinantes para o seu sucesso.
“De uma forma muito geral podemos dizer que uma máscara bem utilizada, se for de boa qualidade, protege até 70%, se menos bem utilizada ou empregue em contextos desfavoráveis, como à chuva ou mal aplicada, protege até 50% e depois a proteção decresce com a qualidade da máscara”, revela Henrique Lopes, especialista em Saúde Pública e professor na Universidade Católica Portuguesa.
Como sublinha um artigo, publicado a 3 de agosto na revista científica Lancet Respiratory Medicine, “nenhuma intervenção, por si só, provoca invulnerabilidade ao SARS-CoV2”. Por isso, além do uso da máscara, “de um ponto de vista de Saúde Pública, é importante enfatizar outras estratégias de mitigação do risco, como a redução do número, proximidade e duração dos contactos, medidas de etiqueta respiratória e higiene das mãos”, referem os autores.
Com o Inverno à porta e o regresso a espaços interiores, é importante perceber o efeito cruzado do uso correto de máscaras de qualidade com o distanciamento físico, aliado a fatores do meio, como a concentração de pessoas num local, a ventilação do mesmo, os padrões de movimentação do ar e a duração da exposição, que, segundo um estudo da Universidade de Oxford, publicado a 25 de Agosto no British Medical Journal (BMJ), são determinantes no grau de risco de contágio.
Após analisar diversos cenários, considerando o uso e o não uso de máscara, o facto de os espaços serem exteriores, interiores ventilados ou pouco ventilados, estarem muito ou pouco ocupados e os contactos serem mantidos durante muito ou pouco tempo, os investigadores concluíram que, por exemplo, mesmo em locais ao ar livre, pouco ocupados, com contactos de pouca duração, se não for usada uma máscara e as pessoas estiverem a gritar ou cantar, o risco de contágio é médio, aumentando para elevado se as mesmas atividades forem desenvolvidas em espaços fechados, pouco ventilados, durante muito tempo, neste caso, mesmo que os intervenientes usem máscara.
Salvaguardando que a avaliação do risco é relativa e aplica-se quando ninguém apresenta sintomas, o estudo sublinha que, nos casos de maior risco (espaços interiores pouco ventilados, muito ocupados, com contactos de longa duração e sem o uso de máscara) “a distância de segurança de mais de dois metros e a redução do tempo de permanência nos mesmos deve ser fortemente considerada”.