Passada a primeira onda de Covid-19, em Bérgamo, Itália, os hospitais estão, agora, a pedir a comparência dos pacientes vítimas do vírus para fazer recolha de amostras de sangue e rastreios ao coração e pulmões.
Controlada a expansão do vírus, Bérgamo vê-se perante um outro cenário difícil de resolver: a recuperação dos pacientes não está a ocorrer como desejado. Como relata o Washington Post, vários são os utentes que se queixam das mazelas que o coronavírus deixou. Paira no ar uma falsa sensação de cura porque, apesar de já não terem o vírus dentro de si, os doentes têm de lidar com sequelas.
De acordo com os médicos dos hospitais de Bérgamo, a Covid-19 deixa, claramente, marcas diferentes de paciente para paciente. Segundo o Washington Post, de 750 pacientes submetidos a exames, cerca de 30% ainda tem cicatrizes nos pulmões e problemas de respiração. Outros 30%, apresentam problemas de coagulação e inflamação, bem como anomalias cardíacas e bloqueios nas artérias. Apesar de poucos, ainda há alguns pacientes cujos órgãos estão em risco de falhar. Um inquérito revelou ainda que cerca de metade das pessoas recuperadas do vírus se sentem doentes.
Mas os problemas não se ficam por aqui. Após vários meses de recuperação, muitos doentes tiveram de aprender a viver com as limitações causadas pela doença. Dores nas pernas, formigueiro em diversas partes do corpo, queda de cabelo, depressão e fadiga acentuada são apenas alguns dos sintomas que os indivíduos descrevem. Além desses, há ainda a perda de memória a curto prazo e o cansaço extremo ao ponto de adormecer a qualquer altura do dia.
Os médicos afirmam que as avaliações dos pacientes conduzidas pelos hospitais de Bérgamo são essenciais para ajudar a compreender os impactos que a Covid-19 tem nos indivíduos. Apesar do cenário pouco animador, os especialistas dizem ver melhorias significativas na respiração dos doentes, ainda que as mazelas nos pulmões não desapareçam de um dia para o outro.
Apesar de pequenas melhorias, há ainda utentes que não veem, de todo, sinais de recuperação. É o caso de Mirco Carrara, de 50 anos, que esteve em coma induzido durante cerca de um mês, como descreve o Washington Post. Além das cicatrizes pulmonares, os médicos constataram a existência de uma infeção fúngica nos seus pulmões. Entretanto, teve de ser submetido a diversos tratamentos, incluindo o sistema de ventilação. Os médicos afirmam que as “bolhas de fungos” dos pulmões são um dos aspetos que podem dificultar severamente a respiração.
O problema parecia estar estável, até ao momento em que uma tosse profunda conduziu Carrara ao hospital, onde teve de ser submetido a uma cirurgia de drenagem dos pulmões. Carrara disse ao Washington Post que terá de aprender a viver com a doença e que é apenas uma questão de tempo até ter de ser submetido a tratamentos novamente. “As bolhas vão permanecer. Elas não vão a lado nenhum”, refere.