Com o surto e o impacto do novo coronavírus, a procura de máscaras de proteção tornou-se largamente superior à oferta. O The Independent revela que estão a ser produzidas centenas de milhares de máscaras médicas falsificadas, em fábricas não esterilizadas, que anteriormente eram já utilizadas para produzir produtos falsos, mas nesse caso, malas e roupa.
Os produtores ilícitos de máscaras rotulam os produtos com marcas de empresas conhecidas de fornecimento de material médico, como a 3M, antes de serem vendidas. Estes produtores criaram ainda selos e documentos de certificação “CE” falsos que atestam os padrões europeus, assim como costumavam fazer com etiquetas da Ralph Lauren ou da Gucci.
As fotografias a que o The Independent teve acesso demonstram os trabalhadores, nas fábricas turcas de têxtil, a produzir máscaras em condições não-recomendáveis pelos especialistas: não esterilizadas e de má qualidade. Na terça feira passada, dia 24, a polícia turca apreendeu 1 milhão de máscaras e deteve cinco pessoas que fabricavam ilegalmente material médico não autorizado, em Istambul.
Um especialista do setor confirma ao jornal que “eles [produtores ilícitos] usam o Photoshop ou qualquer outro método para obterem os seus próprios certificados” acrescentando que “eles estão a contratar fabricantes de caixas para fazerem as embalagens falsas com logótipos, como se estivessem a vender uma camisola falsificada da Nike”.
Durante a semana passada, uma operação da Interpol em 90 países resultou em 121 detenções e apreensão de 14 milhões de dólares – quase 13 milhões de euros – em “produtos médicos potencialmente perigosos”. O secretário geral da Interpol afirma, num comunicado, que “os criminosos não param de obter lucro” e que “o comércio ilícito de itens médicos falsificados durante uma crise de saúde pública mostra um total desprezo pelo bem-estar ou pela vida das pessoas”.
A crise da falta de máscaras é uma realidade em todo o mundo. Os profissionais de saúde assumem que faltam equipamentos nos hospitais e os governos tentam combater estas falhas. Juntar a estas problemáticas já existentes a multiplicação de máscaras pouco seguras aumenta os desafios dos médicos, enfermeiros e políticos.
Ao não serem fabricadas de forma correta, as máscaras são um perigo para a saúde, pois não impedem o vírus e as bactérias de entrar nas vias respiratórias.
A extensão da produção não autorizada ainda não é conhecida. Contudo, fontes da indústria citadas pelo The Independent declaram que existem fábricas na China, Índia e Turquia. A Turquia tinha capacidade de produzir cerca de 50 milhões de máscaras por dia. O país começou a aumentar a sua produção e venda nos finais de janeiro, quando o coronavírus atingiu grande parte da China. As produções não param de aumentar devido à procura das máscaras, que muitas vezes são empacotadas em caixas, sem proteção em plástico, o que fazia com que estas se mantivessem esterilizadas até chegar ao consumidor final.
Na Turquia, o facto de os hospitais estarem atrasados nos pagamentos – devido ao abrandamento da economia – faz com que os produtores legítimos de máscaras tenham dificuldades na produção de novos pedidos. Durante esta semana, as autoridades turcas dirigiram-se às empresas ameaçando assumir o controlo da industria, caso estas não vendessem máscaras de proteção e outros equipamentos ao governo. Suleyman Soylu, ministro do Interior turco, citado por um jornal local, confirma que a polícia já começou a invadir fábricas de produção de máscaras, no domingo, para exigir que estas assinem contratos para a venda de produtos ao Ministério da Saúde.