O coronavírus é muito mortal? Esta é a pergunta que todos se fazem, e para a qual ainda não há respostas definitivas. Já vários números foram estimados, desde que foi conhecido o surto na China. Se há um mês se falava de uma taxa de mortalidade na casa dos 2%, a Organização Mundial da Saúde apresentou, na segunda semana de março, uma estimativa com um número que deixou muitos surpreendidos: 3,4%. Bastante acima da gripe sazonal, com taxas de mortalidade que andam na casa dos 0,1% a 0,4%, mas abaixo dos surtos da SARS (9,5%) ou da MERS (34%). A gripe espanhola teria taxas de mortalidade na casa dos 10% e a peste bubónica na dos 60%.
Para muitos especialistas, ainda é cedo para se chegar a uma conclusão definitiva, sendo provavelmente mais realista pensar num valor inferior. Desde logo, é errado comparar valores de epidemias passadas com uma que ainda está a decorrer, em relação à qual não se sabe todo o panorama e, sobretudo, como vai evoluir. E os dados mudam muito rapidamente à medida que o vírus se propaga pelo mundo.
Por outro lado, os cálculos podem ser ainda muito ilusórios. Vários epidemiologistas alertam para o facto de a taxa de mortalidade se calcular tendo em conta o número total de casos contaminados, e se o número de mortos é certo, o de pessoas infetadas é altamente falível. Há portadores do vírus que são assintomáticos, falsos negativos e pessoas com sintomas tão brandos que não chegaram a ser hospitalizadas nem sequer testadas. A margem de erro dos infetados é muito grande (e varia também conforme os métodos de contabilização, que na China foram sendo alterados), sendo presumível que seja maior do que a conhecida tendo em conta os casos não contabilizados. É pois provável que, à medida que o rastreamento aumenta em todo o mundo – algo que a OMS já recomendou amplamente (“Encorajamos os países que queiram saber quanta população está doente com Covid-19 a começarem a fazer exames em pessoas com sintomas”) –, a taxa de mortalidade baixe.
Idade, um fator de risco elevado
Outro fator que influi bastante é o facto de o vírus matar, sobretudo, a população mais idosa, acima dos 80 anos (14,8%, sendo de “apenas” 8% na faixa etária imediatamente anterior, dos 70 aos 79 anos), ao passo que as crianças resistem muito melhor e raramente têm complicações graves ou muito graves (ver gráfico). Países com populações mais idosas podem, portanto, registar taxas de mortalidade mais altas.
Os homens não são mais atacados do que as mulheres, mas falecem mais, e pessoas com condições de saúde preexistentes são, naturalmente, mais suscetíveis ao vírus – doenças cardiovasculares, diabetes, doença respiratória, hipertensão e cancro são as mais graves. A morte acontece não por causa do vírus propriamente dito, mas das complicações que a doença causa no organismo: pneumonia, ou seja, uma inflamação severa nos pulmões, falência dos rins e de outros órgãos vitais.
Importantes são também a capacidade dos sistemas de saúde em todo o mundo, que variam de país para país. É expectável que sistemas robustos e bem apetrechados, com unidades de cuidados intensivos bem equipadas e equipas especializadas e formadas, registem menos mortalidade.
Basta pensar que, como alertaram os médicos italianos numa carta com dez recomendações dirigida à Sociedade Europeia de Medicina Intensiva, muitos destes pacientes necessitam de ventiladores devido a falências respiratórias agudas, e em países mais pobres eles podem simplesmente não estar disponíveis. O estado geral de saúde das populações também é importante: a robustez dos sistemas imunológicos é determinante para resistir à doença em caso de infeção.
Uma coisa é certa: entre os 66 615 casos diagnosticados considerados resolvidos (à data de fecho desta edição, a 9 de março), 94,2% acabaram recuperados e 5,8% resultaram em morte (3 893). Número elevados, é certo.