O escritor e ativista político chileno Luis Sepúlveda, que vive nas Astúrias e esteve em Portugal no festival literário Correntes d’ Escritas entre 18 e 23 de fevereiro, foi internado num hospital espanhol depois de, este sábado, ter dado positivo para coronavírus.
Segundo o jornal A Voz das Astúrias, o escritor começou a sentir-se mal no dia 25, quando regressou de Portugal. Foi na quinta-feira, num centro de saúde espanhol, que foi primeiro diagnosticado com uma pneunomia grave. Só depois de fazer análises foi diagnosticado no dia 29 com o vírus Covid-19. Foi então transferido para o Hospital Universitário Central das Astúrias, onde está em isolamento, tal como a mulher que o acompanhou durante a visita a Portugal e que também tem sintomas, mas ainda sem confirmação de contágio com coronavírus.
Apesar de ter reportado sintomas mais graves apenas no dia 25, várias pessoas presentes no Festival deram conta de que estava já com “ar doente” enquanto esteve em Portugal. “Não estava com bom aspeto”, afirmou um dos participantes no festival que lidou de perto com o escritor. Um facto confirmado pela organização. Manuela Ribeiro disse ao Expresso que quando se despediu do escritor Luis Sepúlveda “estava já bastante constipado”.
Luis Sepúlveda (70 anos) participou na quinta-feira, dia 20, no Festival Literário Correntes D’ Escritas, um lugar de romaria já obrigatório para as figuras da cultura portuguesa, falando do tema “Era uma vez a liberdade”, numa mesa com José Luís Peixoto , Paula Lobato de Faria, José Gardeazabal, Marta Orriols e Michael Kegler.
A sala do Cine-Teatro Garrett estava cheia para ouvir o painel, como se pode ver nesta fotografia divulgada pela Câmara Municipal da Póvoa do Varzim no seu site.
A comunidade literária nacional ficou em alerta perante a notícia, e muitos dos participantes no festival começaram já a contactar a Linha de Saúde 24. A organização já disse que tem a obrigação de “informar todas as pessoas que estiveram envolvidas no festival, desde escritores ao público”. Entretanto, as autoridades de saúde nacionais estão a procurar conhecer todos os detalhes do seu percurso no nosso País, para certificar que não existiu contágio ou controlar a sua propagação.
Durante vários dias, Luis Sepúlveda contactou com as centenas de escritores ibéricos, críticos e jornalistas presentes e chegou mesmo a dar entrevistas. Luís Sepúlveda e a mulher assistiram aos debates e iniciativas do evento, frequentando os mesmos espaços, salas e restaurantes. Neste mesmo dia, falaram por exemplo no festival Ricardo Araújo Pereira, Rui Zink, David Machado, Luisa Costa Gomes, Luis Carmelo, Ana Sofia Silva, Mário Lúcio, Ivo Machado, Miguel Araújo, entre muitos outros.
Luís Sepúlveda captou a atenção da plateia que encheu o Cine-Teatro da Póvoa do Varzim. O escritor definiu a liberdade como “a suprema aspiração de um homem e a síntese perfeita de tudo o que se pode alcançar” e, ao mesmo tempo, “uma soma de direitos durissimamente conquistados, que não tem solidez nem envergadura”. E estabeleceu uma comparação com alguns dos piores momentos da nossa história, “em que grandes pensadores refletiram sobre a facilidade de nos esquecermos como ela era, se é que alguma vez a vimos”.