Dois milhões de portugueses sofrem de enxaquecas e, destes, 700 mil têm enxaquecas graves, com quatro crises por mês. Os dados, divulgados pela Sociedade Portuguesa de Cefaleias, revelam o impacto que esta doença neurológica tem no País. Aliás, segundo o maior estudo mundial feito sobre o tema, e que envolveu 11 mil doentes dos 31 países participantes, incluindo Portugal, só na Europa os custos totais da doença situam-se entre 18 e 27 mil milhões de euros. Em Portugal, 50% dos doentes inquiridos faltaram ao trabalho por causa da enxaqueca no mês anterior, o que equivale a uma média de 3,8 dias. Além disso, mais de metade dos entrevistados (54%) disse sentir incompreensão por parte dos outros e 79% assumiram sentir-se limitados para cumprir tarefas diárias durante uma crise de enxaqueca. Ao todo, existem 14 grandes tipos de cefaleias que podem subdividir-se em mais de 200 formas diferentes. A própria enxaqueca apresenta cerca de 20 formas diferentes. Afeta mais mulheres do que homens e a dor de cabeça é frequentemente acompanhada por náuseas, sensibilidade ao som e à luz. Não tem cura, mas pode tentar-se controlá-la. Existem medicamentos e comportamentos que ajudam a reduzir a frequência, a duração ou a intensidade das crises. O jornal inglês The Guardian juntou a informação e fez uma lista que pode ser-lhe útil.
Aqui ficam os melhores truques para o ajudar a gerir as enxaquecas.
1. Monitorize as crises
Ter um diário, onde se anota o que se faz antes e depois da enxaqueca pode ser um importante trunfo no combate à doença. Isto porque há várias situações que contribuem para desencadear as crises de enxaqueca ou para as agravar, como fatores ambientais, comida ou até o cheiro de um perfume. Se for possível identificar quais os que têm impacto em cada pessoa, pode reduzir-se a exposição a eles e, assim, diminuir o risco. Estes fatores desencadeantes das crises não são iguais para todos e vão variando ao longo da vida. Os mais comuns são os hormonais nas mulheres (menstruação, a ovulação ou a pílula anticoncetiva), os emocionais (strese e ansiedade), as alterações do sono, alguns fatores ambientais (alterações meteorológicas e viagens prolongadas) e a exposição a estímulos olfativos, visuais ou sonoros. Há também situações relacionadas com a alimentação, como o jejum prolongado ou a ingestão de bebidas alcoólicas que podem ser de risco.
2. Tome medicamentos, mas com cautela
No que se refere às dores de cabeça mais leves, os analgésicos ou os anti-inflamatórios podem ajudar a aliviá-las. Já para as enxaquecas mais severas, entre os medicamentos disponíveis mais receitados estão os triptanos, que bloqueiam a dor. Há vários e se o que tomar não fizer qualquer efeito, pode experimentar um outro, dentro desta mesma categoria. Isto porque, segundo estudos realizados, 30% a 40% dos doentes que não respondem a um triptano respondem a um outro. No entanto, os especialistas têm alertado para o facto de ser preciso ter algum cuidado com o consumo dos medicamentos, pois o recurso frequente à medicação pode resultar em cefaleia por uso excessivo de fármaco e levar a que as dores se tornam mais intensas e frequentes.
3. Cumprir rotinas
O cérebro de quem sofre desta doença é muito sensível a mudanças ambientais, sejam externas, como barulhos, ou internas, como as questões hormonais. Se conseguir definir e cumprir rotinas, como horas de dormir, de comer ou de realizar exercício, isso pode ajudar a prevenir o número de crises. Ou seja, é importante evitar saltar refeições. No entanto, um estudo recente, realizado por investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) – com o apoio da University of California San Francisco, nos EUA, e do King’s College London, no Reino Unido, descobriu que a falta de apetite que leva a saltar refeições pode ser ela mesma um sintoma da própria enxaqueca.
4. Tente suplementos
Há suplementos que podem ser eficazes para ajudar a prevenir enxaquecas, segundo indicam alguns estudos. Em especial, o magnésio, a vitamina B2 e a coenzima Q10 (CoQ10). Aliás, um estudo feito em 31 doentes revelou que os que tomaram coenzima Q10 (CoQ10) diminuíram para metade o número de crises. Em todo o caso, sempre que se quiser tomar qualquer suplemento deve-se perguntar a um médico, até porque alguns suplementos podem reagir com outros medicamentos.
5. Faça exercício com moderação
Fazer exercícios aeróbicos regulares, como jogging, natação, ciclismo ou dança, de intensidade moderada, durante 30 minutos, três vezes por semana, pode reduzir a severidade e a frequência das dores de cabeça. Mas há que tomar algumas medidas: comer e beber antes de realizar os exercícios, para ficar com baixos níveis de açúcar no sangue, o que pode gerar uma dor de cabeça.
6. Corte no excesso de cafeína
Consumir elevadas quantidades de café todos os dias pode contribuir para o desencadear de crises de enxaqueca. De acordo com os especialistas, deve-se limitar o consumo de cafeína a 200mg por dia, o equivalente a chávena média de café.
7. Procure nova medicação
Nos últimos anos, começaram a surgir algumas novidades no tratamento. Uma delas foram os medicamentos anti-CGRP, anticorpos administrados mensalmente por injeção. No entanto, só alguns doentes respondem a estes produtos. Há uns meses, a Agência Europeia do Medicamento aprovou um novo fármaco, o Aimovig (erenumabe), o primeiro a ser licenciado especificamente para prevenir a enxaqueca. Destina-se a adultos, que têm pelo menos quatro dias de enxaqueca por mês, e bloqueia o recetor relacionado com o gene da calcitonina, que estará envolvido nas enxaquecas. O tratamento, que é autoadministrado uma vez por mês com uma caneta autoinjetora, pretende reduzir para metade o número médio de dias que todos os meses os pacientes sofrem de enxaqueca, segundo explicou o laboratório que o lançou.