As unidades de neonatologia de Lisboa estão sobrelotadas e com falta vagas para atender aos novos casos urgentes, situação que está a preocupar obstetras, pediatras, INEM e enfermeiros. Segundo a VISÃO apurou, tiveram mesmo de ser transferidas grávidas em risco de parto prematuro de Lisboa para os Hospitais de Coimbra e para Évora para poderem ter os seus bebés em segurança.
As férias e o défice de pessoal obrigaram ao fecho de camas nas unidades de cuidados intensivos em unidades de neonatologia de Lisboa. Segundo os dados disponibilizados pelo Ministério da Saúde, no centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital de Santa Maria – face a Agosto do ano anterior encerraram cinco camas nos cuidados intermédios e ficaram apenas 10 vagas disponíveis, às quais se juntam oito vagas nos cuidados intensivos. Este efeito faz com que Santa Maria permanentemente feche a sua capacidade de receber doentes em neonatologia, algo que acontece também com frequência com o Hospital Amadora-Sinta.
Entre a Maternidade Alfredo da Costa e a Estefânia (Centro Hospitalar Lisboa Central) há 23 vagas nos cuidados intensivos e 21 os cuidados intermédios, permanentemente solicitadas para responder aos casos de risco. Fonte da Maternidade explicou à VISÃO que “a instituição está a funcionar no limite das suas capacidades”. “ A situação está crítica e tem obrigado a uma gestão muito difícil de transferência de grávidas entre hospitais da capital. A situação já foi devidamente comunicada à Administração Regional da Saúde, mas ainda sem resultados práticos”, explica a mesma fonte.
Algarve e Beja são outras zonas do País com défice de vagas em neonatologia que também reencaminham muitas grávidas de risco ou bebés recém-nascidos para a Lisboa, pressionando as necessidades de resposta na capital.
A situação agravou-se no verão, depois de em julho as equipas de enfermagem passarem a gozar da redução das 35 horas de horário semanal. O Ministro da Saúde diz que já está autorizada a contratação de profissionais necessários para colmatar a passagem das 40 para as 35 horas e que serão pelo menos dois mil no total na primeira fase. Mais tarde, em Setembro ou Outubro, entrarão mais, mas não sabe quantos. No entanto, a especificidade da neonatologia exige formação do pessoal de enfermagem, não se conseguindo substituições com facilidade.
Francisco Abecassis, médico e coordenador do serviço de transporte interhospitalar pediátrico da zona sul do País, diz que o problema é grave e tem passado ao lado da opinião pública. “A falta de vagas em obstetrícia e neonatologia tem obrigado a uma difícil gestão e vagas com transferências frequentes de grávidas entre hospitais de Lisboa e, em alguns casos, para Évora ou Coimbra”, sublinha.
Contactado pela VISÃO, o ministério da Saúde desvaloriza a situação. “O número de camas de Neonatologia no Hospital de S. Francisco Xavier (CHLO) e Maternidade Alfredo da Costa (CHULC) em agosto de 2018 é exatamente igual ao número de camas a funcionar em agosto de 2017.
No caso do Centro Hospitalar e Universitário de Lisboa Norte (CHULN) – onde se inclui o Hospital de Santa Maria, verificou-se um ajustamento pontual nos Cuidados Intermédios Neonatais relacionado com a gestão de recursos, cuja resolução se encontra em curso.”
Quanto às transferências para fora da capital, o Ministério da Saúde diz que não são relevantes. “Este tipo de transferências é muito pontual e traduz-se em situações muito pouco significativas se tivermos em conta os mais de 26 mil partos registados nos últimos anos na Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (27.139 em 2017)”.
Um relatório do colégio da especialidade de ginecologia-obstetrícia da Ordem dos Médicos, divulgado pelo Público esta semana, denunciou uma falta grave de recursos humanos nas urgências de obstetrícia dos hospitais públicos, multiplicando-se as transferências de grávidas e ameaças de demissões de chefes de serviço e até mesmo, alertam os especialistas, risco de aumento de cesarianas. Os problemas não são localizados, nem são só de agora: 80% dos blocos de partos do país têm falta de médicos.