Um jogador já perdeu muito dinheiro mas continua a jogar porque já perdeu demasiado para desistir; Um cliente escolheu a fila errada do supermercado, mas já perdeu tanto tempo naquela que se recusa a mudar para outra; Um parceiro insiste numa relação pouco saudável porque já investiu tanto nela. A “falácia dos custos irrecuperáveis” há muito que intriga piscólogos, entre outros profissionais, mas era, até aqui considerado um fenómeno cognitivo exclusivo dos seres humanos. O que uma equipa da Universidade do Minnesota, EUA, descobriu agora e publicou na Science foi que, afinal, este é um problema partilhado com outras espécies, neste caso ratos e ratazanas.
“As três espécies aprenderam a jogar o mesmo jogo económico”, resume Brian Sweis, principal autor do estudo, que pôs, durante um período limitado de tempo, os roedores à procura de alimentos e humanos à procura de vídeos na internet.
Ratos e ratazanas foram colocados num labirinto com quatro “restaurantes” – foi esta a designação dos investigadores para os quatro locais onde lhes era fornecida comida. À entrada de cada restaurante, o animal era informado sobre o tempo que teria de esperar até lhe ser dado o alimento, através de um sinal sonoro, e que variava entre 1 a 30 segundos. O exercício demorava uma hora no total e, para os cientistas, era como se cada roedor tivesse de responder se estava disposto a gastar 20 segundos do seu tempo à espera do seu snack.
Já os humanos eram confrontados com vários galerias de vídeos online e informados através de uma barra comum de download acerca do tempo que teriam de esperar para ver determinadas imagens. Neste caso, a questão era se estavam “dispostos a esperar 20 segundos do tempo disponível (uma hora também) para ver o vídeo com o gatinho”.
A cada escolha, humanos e animais tinham duas decisões a tomar: uma primeira quando lhes era revelado o tempo que teriam de esperar e depois, feita a escolha, a decisão de desistir ou não durante a contagem decrescente. Os autores descobriram que, independemente da espécie, quanto mais os indivíduos já tinham esperado, mais relutantes se mostravam em desistir.
Igualmente relevante é que todos hesitavam antes de aceitar ou rejeitar uma opção, “como se soubessem que não queriam ficar à espera a não ser que tivessem a certeza”.
Outro autor do estudo, David Redish, adianta que este trabalho foi o resultado da colaboração entre três laboratórios e precisou de muito “andar para trás e para a frente para assegurar que se podia colocar as mesmas questões entre espécies diferentes nestas tarefas paralelas”.
Os três laboratórios envolvidos tinham feito, recentemente, várias descobertas sobre a semelhança entre os sistemas neurais usados por ratos, ratazanas e humanos para tomar diferentes tipos de decisões. Entre as descobertas estava a de que estes animais também mostram arrependimento depois de cometer erros e que até podem aprender a evitar erros erros, ponderando antes de decidir, como mostrou um estudo recente publicado no PLOS Biology.