A culpa é sempre da mãe – e no limite de Amelie Freud, diríamos a pensar no seu filho Sigmund. Começamos por este aforismo porque as cinco psicólogas autoras de um estudo sobre os efeitos para o futuro de ter “pais demasiado controladores” na infância, agora publicado na revista científica Developmental Psychology, optaram por analisar apenas o comportamento de mães. Nenhuma das 422 crianças que as investigadoras acompanharam ao longo de oito anos foi observada a interagir com o pai.
Nicole B. Perry, do Institute of Child Development, da Universidade do Minnesota Twin Cities, nos Estados Unidos, e as suas colegas partiram para a investigação com o objetivo de verificar se é verdade que a super-proteção na infância acaba a “roubar” autonomia no futuro. Para tanto, teriam de acompanhar as crianças ao longo de vários anos.
Começaram, então, por filmá-las aos 2 anos, primeiro a brincar durante quatro minutos na companhia das mães e depois dois minutos sozinhas. Com base nos vídeos, as psicólogas observaram até que ponto as mães tentavam assumir o comando da brincadeira.
Mais tarde, quando elas tinham 5 anos, a equipa verificou como reagiam a uma partilha injusta de doces, e qual a sua capacidade de resolver um puzzle, sob pressão. Nessa altura e novamente aos 10 anos, as investigadoras foram saber como estava a ser o seu desempenho académico, pedindo aos professores para avaliarem as suas competências sociais e eventuais problemas de depressão, ansiedade ou solidão. Também aos 10, entrevistaram as próprias crianças, fazendo-lhes perguntas sobre a escola, os professores e questões emocionais.
A equipa concluiu que um comportamento mais controlador por parte das mães estava ligado ao facto de os seus filhos terem, aos 5 anos, menos controlo das suas emoções e impulsos. Esses mesmos miúdos revelaram, aos 10 anos, competências sociais e desempenhos académicos mais fracos. Eles próprios relataram problemas emocionais e um fraco interesse pela escola em geral.
“Os pais demasiado controladores são a maioria das vezes bem intencionados e estão a tentar ajudar os seus filhos”, salienta Nicole, acrescentando que, com “treino”, é possível aprenderem a dar aos filhos a oportunidade de desenvolverem a capacidade de auto-regular as suas emoções por alturas da pré-adolescência.