Já não basta o quarto arejado, a escuridão total, o telemóvel desligado e o conforto de uns lençóis de algodão egípcio para se ter uma boa noite de sono. Os weighted blankets, nome dado aos cobertores com peso extra, chegaram e roubaram o lugar aos edredons de penas naturais de ganso – os mais esvoaçantes e confortáveis.
Mas como é que um cobertor, com peso variável entre os quatro e os onze quilos, nos pode ajudar a dormir melhor? Dando a sensação de um abraço forte. Feitos de diversos materiais, no exterior, como a flanela ou o algodão, é no enchimento que está o segredo do sucesso. As bolinhas de plástico, tal como as que enchem os bonecos de peluche, divididas pelas diversas bolsas acolchoadas do cobertor, fazem com que a pressão do seja distribuída de forma uniforme por todo o corpo. É precisamente essa pressão que, segundo alguns estudos sugerem, pode aliviar a ansiedade e o stresse dos que sofrem de noites agitadas ou dos que têm dificuldade em adormecer.
E são cada vez mais os que continuam a contar carneirinhos até altas horas da noite. Nos países industrializados, até um terço da população padece de um sono de fraca qualidade. Um problema abrangente, que afeta todas as faixas etárias, dos adolescentes aos mais velhos, e continua a aumentar devido aos estilos de vida mais acelerados, sobretudo nas grandes cidades. Não é, por isso, de estranhar que a falta de um sono de qualidade possa conduzir ao esgotamento, a distúrbios psicossomáticos, à dependência de substâncias viciantes e a outros problemas metabólicos ou cardiovasculares.
Um carneirinho, dois carneirinhos
De início, estar deitado com um cobertor de oito quilos em cima pode causar uma sensação de desconforto, mas é suposto que a pressão causada imite a sensação de se ser abraçado com força. Essa prática tem sido usada, ao longo dos anos, na terapia ocupacional de crianças com autismo, altos níveis de ansiedade ou excitação, stresse e défice de atenção.
Mesmo as crianças sem estes diagnósticos encontram benefícios no weighted blankets. “Todas as pessoas podem beneficiar do toque de pressão profunda do cobertor”, explica Rochelle Ackerley, investigadora do departamento de Psicologia da Universidade de Gotemburgo, na Suécia. A coautora de um estudo, realizado em 2015, concluiu que os cobertores pesados podem aliviar a insónia também em alguns adultos. “Nós temos recetores específicos na nossa pele que estão sintonizados com o toque leve. Tais recetores são ativados durante o contacto, como num abraço. Considera-se que o cobertor proporciona um efeito de cocooning [encasulamento, a tendência de recolher a casa, onde se encontra todo o conforto e proteção] semelhante e uma sensação de segurança”, acrescenta a investigadora. O peso extra faz com que o cérebro liberte neurotransmissores, como serotonina e dopamina, responsáveis pelos estados de bom humor e animação, que levam a um efeito calmante.
Uma das maiores defensoras da pressão por toque profundo para acalmar crianças, estudantes universitários e animais, é Temple Grandin, investigadora em comportamento dos animais e também portadora de autismo, mencionada pela revista Time na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo, na categoria dos Heróis, em 2010.
A invenção pertence ao californiano Keith Zivalich depois de, há 15 anos, a sua filha pequena lhe ter posto um peluche felpudo no ombro, enquanto conduzia. “Senti-me tão bem”, conta, revelando ter tido a ideia de imediato. A sua mulher desenhou o protótipo e produziram vários exemplares numa fábrica em Los Angeles, que distribuíram pelos amigos, incluindo um professor de alunos com necessidades especiais, que viu no produto uma fonte de propriedades terapêuticas.
Para obter uma boa noite de sono, os especialistas recomendam que o cobertor tenha cerca de dez por cento do peso corporal do indivíduo. Estará para breve o fim das insónias?
5 vantagens dos cobertores pesados
1 – Ajudam a reduzir a ansiedade e o stresse
2 – O tempo de sono aumenta
3 – Diminuem os movimentos durante a noite, fazendo com que a pessoa se sinta mais relaxada de manhã
4 – Contribuem para a redução da toma de fármacos indutores do sono
5 – São usados como terapia ocupacional em crianças com autismo