A prática de exercício físico, de preferência de forma regular, tem inúmeros benefícios para a saúde, incluindo a diminuição do risco de doenças cardiovasculares, normalmente atribuída à redução de fatores como o índice de massa corporal, o colesterol ou os níveis de insulina. Mas um grupo de cientistas britânicos e americanos descobriu agora que mesmo quem só tem tempo para fazer um treino por semana não deve desanimar: pode ser o suficiente para manter o coração protegido.
Através da revisão de diversos estudos, os investigadores descobriram que o exercício físico reduz o risco de problemas cardiovasculares através da criação de uma barreira protetora, chamada de pré-condicionamento isquémico, em torno do coração. O pré-condicionamento isquémico, ou cardiovascular, ocorre quando o miocárdio sofre um episódio de isquemia (diminuição da passagem de sangue pelas artérias que levam o sangue ao coração) e depois desse ataque cria uma resistência para o caso da situação se repetir. Este conceito apareceu pela primeira vez nos anos 80, mas só agora se descobriu que uma das formas de o induzir passa pela prática de exercício físico.
Num dos testes, em animais, foi induzido o bloqueio de uma artéria do coração para provocar um ataque cardíaco. Os investigadores analisavam depois os danos causados, comparando as cobaias que não praticavam exercício físico com aquelas que faziam. Foi assim que perceberam que os animais que tinham acabado de fazer exercício registavam ataques cardíacos menos graves.
Dick Thijssen, professor de Fisiologia Cardiovascular na Universidade John Moores, em Liverpool, no Reino Unido, e os restantes colegas de investigação, mencionaram na revisão publicada no jornal da Associação Médica Americana que “o exercício induz um estímulo de pré-condicionamento da proteção cardíaca que protege o sistema cardiovascular por duas a três horas [após o treino] e um período de proteção mais robusto e duradouro que emerge após 24 horas e que se mantém durante vários dias”. “É importante que se perceba que estas associações estão presentes no primeiro episódio de exercício e que as sessões de treino seguintes reativam as vias protetoras e levam a efeitos benéficos relativamente ao risco de isquemia do miocárdio”, acrescentam.
Uma das formas de aplicação desta descoberta no mundo da medicina seria a de expor um paciente a terapia física antes de uma operação, ao invés de depois da mesma. Assim, esta pré-reabilitação poderia reduzir o risco de complicações durante a cirurgia.