“Não me apetece” ou “faço amanhã” são frases que todos (ou quase todos) já usámos perante coisas menos boas que precisam de ser feitas. Mesmo com todas as intenções de realmente o fazer, muitas vezes convencemo-nos de que não faz mal fazê-lo mais tarde – e é a isso que se chama procrastinar. Ao contrário do que muitos pensam, procrastinar não é o mesmo que ter “preguiça” e pode refletir-se em várias situações, das mais sérias às mais mundanas.
Existem várias explicações para o fenómeno. Pode ser resultado de uma resposta emocional negativa associada à realização de uma determinada tarefa; um comportamento adverso face ao ressentimento causado por tarefas que são impostas ao individuo e não voluntárias; ou um mecanismo de defesa face ao medo de falhar ou errar.
Seja qual for a explicação mais correta, uma coisa é certa – a procrastinação evita que as pessoas cumpram os seus objetivos. E se houvesse uma forma eficaz de contrariar este comportamento? Um estudo da Universidade da Pensilvânia e da Universidade de Harvard aponta um caminho.
O método já não é novo. Chama-se “temptation bundling” – que podemos traduzir como “agrupar tentações” – e consiste na junção de uma ação que “temos” de fazer com outra que “queremos” fazer. São, portanto, duas ações diferentes mas complementares, feitas em simultâneo.
Katherine Milkman, professora de economia comportamental na Universidade da Pensilvânia e coautora do estudo, exemplifica: “eu apenas me permito a fazer pedicure quando estou a fazer algum trabalho em simultâneo ou, no meu caso, a pôr em dia as revisões de manuscritos”, diz à BBC.
“Para outras pessoas, poderá ser ver emails ou cópias antigas de relatórios que precisem de ser lidos para o trabalho”, sendo que cada pessoa tem a liberdade de escolher a combinação tarefa/recompensaque mais lhe faça sentido.
Um outro exemplo pode ser ir ao seu restaurante favorito com alguém com quem não simpatize muito, ou com alguém com quem se veja obrigado a passar tempo. “Pode até ser um restaurante que não seja muito saudável para si”, acrescenta a autora, algo que proporcione um “prazer culpado”.
Para o estudo, Milkman encorajou um grupo de 226 membros de uma faculdade, com idades compreendidas entre os 18 e os 75 anos, a fazerem exercício – a tarefa chata – enquanto ouviam audiobooks apelativos e viciantes, como o The Hunger Games – a recompensa imediata – em aparelhos portáteis emprestados aos participantes para o efeito.
Os participantes foram depois divididos em três grupos. Um grupo que só tinha acesso aos audiobooks no ginásio; outro grupo que lhes tinha acesso em qualquer altura e foi apenas encorajado a misturar as atividades; e o grupo de controlo.
O primeiro grupo revelou uma aptidão 51% maior à prática de exercício do que o grupo de controlo, que podia ouvir os audiobooks quando queria. O segundo grupo, embora não restrito às praticas conjuntas, demonstrou também um aumento de 29% da aptidão à pratica de exercício, face ao grupo de controlo.
No final das nove semanas de observação, 61% dos participantes sentiu-se inclinado a continuar a prática de exercício, mesmo tendo de pagar pelo acesso ao ginásio e aos audiobooks.
Milkman considera que a técnica deve ser vislumbrada como uma espécie de plano de compromisso que a pessoa faz consigo própria – um arranjo formal para alcançar objetivos. O truque reside em encontrar duas ações que se complementem e que possam ser executadas em conjunto com facilidade, uma em recompensa da outra.
Como explica Bri Williams, especialista em liderança e fundadora da firma de economia comportamental People Patterns, ao “atenuar as tarefas que não quer fazer, torna-se menos propenso a cortá-las da sua semana ocupada”, diz. “O segredo é agrupar tarefas que requeiram esforços diferentes. Por exemplo, se uma tarefa requer foco ou concentração, não vai querer que a outra seja demasiado distrativa – ler enquanto se ouve um podcast é muito difícil, por exemplo, enquanto que cozinhar a ouvi-lo é mais realista”.
Mas existe também o outro lado da questão, como aponta Williams. Em vez de atenuar uma tarefa nefasta, existe a possibilidade de, pelo contrário, manchar o gosto por uma tarefa prazerosa ao juntá-la a uma menos boa. “Pode acontecer que acabe a evitar as duas”, diz, ao que Milkman acrescenta que “a possibilidade de [o temptation bundling] falhar é muito realista, se o levarmos demasiado longe.”