Comece-se por responder à pergunta enunciada no título deste artigo: foi Jan Vijg, geneticista da Escola de Medicina Albert Einstein College de Nova Iorque, que, num estudo publicado na revista Nature em outubro do ano passado, defendeu existir um limite para a vida humana.
Ao analisarem estatísticas da base de dados internacional sobre longevidade, Vijg e a sua equipa concluíram que a proporção de pessoas que chegam aos 70 ou mais anos aumentou desde 1900, mas que a taxa cai rapidamente acima dos 100 anos. E que, nos quatro países com uma alta proporção de “supercentenários” (pessoas com 110 anos ou mais) – França, Reino Unido, EUA e Japão – a meio do final dos anos 90, já foi atingido um teto máximo de 114,9 anos.
“Ainda não somos muito bons a reduzir a sua mortalidade dos idosos mais velhos”, notou Vijg. “Com os dados que temos atualmente, a hipótese de vermos uma pessoa de 125 anos num determinado ano é de cerca de 1 em 10 mil.” A francesa Jeanne Louise Calment, que morreu com 122 anos, em 1997, terá sido uma clara exceção.
As críticas dos restantes membros comunidade científica que trabalham na área da longevidade não se fizeram esperar, mas só agora surgiram artigos a contradizer os resultados da investigação de Vijg.
“Podemos mostrar que os dados são compatíveis com muitas trajetórias diferentes”, defende Siegfried Hekimi, da Universidade McGill, em Montreal, no Canadá. Um dos cenários possíveis é a de que a esperança de vida suba constantemente, de modo a que a pessoa mais velha até o ano 2300 tenha 150 anos de idade. “Sobretudo, o aumento da vida útil média não entrará em choque com um limite de 115 anos.”
Mais contundente, James W. Vaupel, especialista em envelhecimento do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, em Rostok, na Alemanha, afirmou que a pesquisa de Vijg é “a pior” que alguma vez leu na Nature. “Fiquei indignado com o fato de uma revista que respeito muito tenha publicado uma farsa.”
Na sua opinião, “as provas não apontam para nenhum limite iminente. No momento, sugerem que, se houver um limite, ele está acima dos 120 anos, talvez muito acima – e talvez não haja qualquer limite.”
Para Maarten Rozing, da Universidade de Copenhague, não há indícios suficientes para podermos dizer que existe um “relógio biológico” programado para limitar o tempo de vida. “Além disso”, nota, “o envelhecimento está a provar ser mais suscetível de mudar do que era suposto.”
Vijg rejeita todas as críticas. Diz que os colegas são picuinhas a analisar as estatísticas e, sobretudo, não leram como deve ser o seu estudo. “Eles tentam encontrar modelos intrincados para mostrarem que a mortalidade está realmente a diminuir com a idade muito avançada. É pior do que ficção científica.”