A raiva, em maior ou menor proporção, é um sentimento difícil de controlar. De certeza que já ‘explodiu’ num momento nada adequado – e, se calhar, até se arrependeu logo a seguir.
Alguns anos de estudos sobre emoções tornaram possível reduzir as teses sobre a raiva a três dicas fundamentais.
Não finja que a sua raiva não existe
Agir como se estivesse tudo bem, quando por dentro está a ferver, ajuda muito nas relações com os outros porque nos ajuda a parecer bem. Mas isso raramente é boa ideia.
O que geralmente acontece é que, não sendo exteriorizada, a raiva torna-se mais forte. Além do mais, lutar contra aquilo que sentimos é auto-destrutivo.
O livro “O antídoto: Felicidade para pessoas que não aguentam uma atitude positiva”, por exemplo, tem vários trabalhos experimentais que atestam essa ideia. Um deles prova que, quando alguém nos diz para não ficarmos tristes, demoramos mais tempo a recuperar da tristeza do que quando ninguém o faz. A mesma obra pegou em dois grupos de pessoas que sofrem de ataques de pânico. Um grupo ouviu músicas relaxantes e o outro músicas completamente banais, e concluiu: os que estiveram expostos a sons relaxantes tiveram uma experiência bastante menos relaxante do que os outros.
Na mesma lógica, uma experiência internacional sobre o choro veio a provar um dado bastante interessante: as lágrimas são sempre positivas menos quando as tentamos reprimir.
A juntar a isto há ainda outro dado interessante, revelado pelas experiências do “Livro da Regulação das Emoções”, de James -Gross: quando reprimimos a nossa raiva as pessoas que estão connosco também o sentem. A pressão arterial do outro sobe e ele acaba por ter menos empatia por nós. Isto verifica-se de forma bastante negativa nas relações em que, por sistema, um ou os dois elementos do casal retrai a sua raiva.
Não descarregue a raiva
Dar murros numa almofada, gritar e espernear: tudo más ideias.
Descarregar indiscriminadamente a sua raiva só a intensifica e a torna menos aquilo que ela deve ser: auto-regulada. Quem o diz é novamente James -Gross, no seu “Livro da Regulação das Emoções”, que reforça que descarregar não traz nenhum bem-estar.
Se, em vez da almofada, for um amigo seu a levar com a raiva, o cenário só piora. É bom recorrer aos outros para, de forma construtiva, partilhar o que sentimos.
Tente distrair-se
É mesmo o que funciona melhor.
Porquê? Porque o seu cérebro tem recursos limitados e falta-lhe capacidade para pensar em tudo ao mesmo tempo.
Ou seja, as nossas capacidades cognitivas podem substituir as emocionais porque o cérebro tem dificuldade em coordená-las e elas usam o mesmo tipo de recursos mentais.
Um estudo realizado em 1970 por Walter Mischel, da Universidade de Stanford, reuniu crianças numa experiência que tinha por objetivo testar, ao limite, as suas capacidades de resistência ao stresse.
Ponto de partida: sozinhas, numa sala fechada e praticamente vazia, sentadas numa cadeira da qual não se podiam levantar, com uma mesa e um prato com um marshmallow à sua frente. Foi-lhes prometido que, se esperassem e não comessem a goma, no final receberiam, não um, mas dois marshmallows que poderiam comer. Nem todas resistiram, mas as que conseguiram foram realmente recompensados.
O que foi interessante de verificar foram os mecanismos que os “resistentes” encontraram para controlar o stresse e evitar o ataque precoce ao delicioso e desejado. O que fizeram foi precisamente distrair-se da goma de forma criativa: cantaram músicas, fizeram caretas, limparam narizes e ouvidos, fizeram jogos com as mãos, brincaram com os dedos dos pés como se fossem teclas de piano.
No final as crianças foram mantidas em análise e uma maior parte das que conseguiram esperar acabaram também por ter melhores notas na escola e mais sucesso na vida.
Se crianças gulosas se conseguem controlar, os adultos também conseguem. Porque este mecanismo é tão válido para o controlo do stresse como para outras emoções quentes, como a raiva.
Então a melhor sugestão é: veja uma série, ouça música, pense em coisas boas, converse com alguém sobre coisas boas ou simplesmente durma. Quando pensamos positivo, o cérebro nem tem tempo de pensar em mais nada.
Reavalie a situação
E quando alguém está, por exemplo, a gritar a um palmo da nossa cara? É difícil distrairmo-nos ou acalmarmos. Mais depressa surge a vontade de gritar de volta ou agir com violência. Nestes casos a ciência aconselha: pense numa história diferente. Que aquela pessoa acabou de perder os filhos, de se divorciar, de ser despedida. Ainda tem vontade de lhe bater? Não, agora sente compaixão. Porque o problema não é o evento em si, mas a nossa avaliação do evento, a forma como pensamos naquela história e os sentimentos que isso nos provoca.
Ou seja, mudar as nossas crenças relativamente ao evento faz com que o cérebro altere as nossas emoções quando lida com ele.
Pensar “o problema não é meu, aquela pessoa deve estar a ter um mau dia” não é fácil, mas é útil. Procure treinar o seu cérebro para a reavaliação das situações e a sua resposta à raiva será muito mais calma.
Esta lógica de alterar emoções pode ser útil em vários momentos, nomeadamente em testes, substituindo stresse por entusiasmo.
A amígdala cerebral das emoções fortes fica calma e não é ativada – como acontece, por exemplo, quando suprimimos a raiva.
Voltando ao teste do marshmallow, Walter Mischel também verificou que, quando as crianças foram capazes de ter autocontrolo para alterar as suas representações mentais e deixarem de se sentir vítimas daquela situação, conseguiram resistir à tentação.
Esta reavaliação é também válida quando pensamos em situações piores do que aquela que estamos a viver. Exemplo: “Estão a gritar comigo mas seria pior se me estivessem a tentar matar”. Relativizar a nossa raiva também ajuda.
Por último, quando a raiva o fizer querer dizer coisas que, no futuro, nem o arrependimento será suficiente para lhe perdoarem, pense na frase de Winston Churchill: “We are masters of the unsaid words, but slaves of those we let slip out” (“Somos donos das palavras não ditas, mas escravos daquelas que deixamos escapar”).