Ainda não há muito tempo, já em 2022, completou-se um período de tempo de democracia em Portugal superior àquele que tinha durado a ditadura. Esse facto forneceu-nos o pretexto para revisitarmos, no novo número da VISÃO História, os17 499 longos dias e noites de autoritarismo, marcados pela faceta altamente repressiva e brutal da polícia política, sucessivamente designada PVDE, PIDE e DGS.
Entre maio de 1926 e abril de 1974, milhares de cidadãos, homens e mulheres, foram longamente detidos em cárceres imundos, sem acusação formada, torturados por agentes cruéis, «julgados» por tribunais coniventes com o regime e sujeitos a «medidas de segurança» que prolongavam indefinidamente a pena atribuída, ao sabor dos caprichos do sadismo policial. Porém, atrás das grades existia uma grande solidariedade entre os presos políticos. Iludindo a vigilância dos guardas, ensinava-se a ler e a escrever, aprendiam-se línguas e aprofundavam-se conhecimentos de história, ciências, matemática e até de… planeamento familiar. A doutrina política também não era esquecida. Por meios ardilosos, entravam nas prisões edições do jornal clandestino Avante! e de outros órgãos de informação e propaganda antirregime, dissimuladas – por exemplo – dentro de nozes (sim, nozes…) ou no fundo falso de uma marmita. Imaginação era coisa que não faltava, aos prisioneiros e suas famílias.
A farsa dos julgamentos, o papel dos advogados na defesa dos presos e a pressão internacional para a denúncia da situação são outros dos estes aspetos recordados neste número, em que contamos com aa colaboração dos historiadores Irene Flunser Pimentel, João Madeira e Luís Farinha. Este número conta também com uma infografia traçando o retrato dos 26 375 ativistas cadastrados pela polícia política, depoimentos de ex-presos políticos sobre o terror vivido às mãos da PIDE e ainda um testemunho de José Carlos de Vasconcelos sobre a sua experiência como advogado de defesa de presos políticos.
É mais uma edição da VISÃO HISTÓRIA, a não perder, que pode comprar aqui, sem sair de casa, na loja Trust in News. Para assinar a VISÃO História, clique aqui.
SUMÁRIO DESTA EDIÇÃO:
Imagens Cartas, desenhos e fichas da prisão
PIDE
A polícia do medo Instrumentos decisivo da repressão, a PIDE contribuiu para a longevidade do regime Por Irene Flunser Pimentel
Inspetores mais temidos Biografias dos «pides» mais relevantesPor Irene Flunser Pimentel
Tortura com método A«estátua», o «sono», o «isolamento» e os espancamentos acompanhavam os interrogatórios Por Irene Flunser Pimentel
O Informador «Inácio» Como um antigo chefe da CP espiou Coimbra e arredores durante 35 anos Por Paulo Marques da Silva
PRISÕES
Viver atrás das grades As cadeias da ditadura foram espaços de resistência e de luta contra o regime Por João Madeira
Objetos proibidos Como as famílias iludiam os guardas e faziam entrar na prisão materiais de apoio aos detidos Por João Madeira
Aprender no cárcere Locais de aquisição de conhecimentos, as «universidades populares» funcionavam de forma clandestina e inorgânica Por João Madeira
Protestos e greves Desafiar as ordens dentro da prisão também era uma forma de luta antifascista Por João Madeira
Infografia Retrato dos presos cadastrados pela PIDE, entre 1926 e 1974. Quantos eram, que idade tinham e que profissão exerciam
Cárceres do Império Descrição das cadeias políticas espalhadas por Portugal e territórios ultramarinos Por Clara Teixeira
Enviados para as ilhas-prisão Os prisioneiros deportados viviam duplamente encarcerados – numa ilha e numa colónia penal Por Luís Farinha
Resistir às privações Não eram apenas os reclusos políticos que sofriam com a arbitrariedade policial. As famílias também ficavam muito vulneráveis Por Marianela Valverde
Presas com filhos Uma antiga dirigente do MUD Juvenil recorda, em entrevista, como foi viver durante um ano na mesma cela que a irmã e o seu filho bebé Por Clara Teixeira
As grandes fugas Foram muitas as evasões arrojadas dos calabouços do regime. Aqui se contam algumas delas Por Luís Almeida Martins
Prisioneiros de Franco e Salazar Portugueses que combateram pela República na Guerra Civil de Espanha acabaram nas prisões do Estado Novo Por Ricardo Silva
JUSTIÇA
Os processos arbitrários Apesar das «reformas», os poderes discricionários da PIDE e os tribunais especiais mantiveram-se durante os 48 anos de ditadura Por Luís Farinha
Testemunho O jornalista José Carlos de Vasconcelos recorda, na primeira pessoa, a sua experiência «dolorosa» como advogado de defesa nos tribunais plenários
Denunciar para salvar No final da ditadura, a Comissão de Socorro aos Presos Políticos alertou para as detenções e torturas Por Cláudia Lobo
Apelar lá para fora As campanhas no exterior também chamaram a atenção para a situação dos detidos Por Clara Teixeira
Roteiro da memória Locais ligados à repressão e à resistência que podem ser visitados
NÚMEROS ANTERIORES QUE AINDA PODE COMPRAR:
Avetureiros portugueses da aviação
II Guerra Mundial: a batalha do Pacífico
125 anos de cinema em Portugal
Eleições presidenciais em Portugal
A construção do império americano
Pestes e epidemias em Portugal
Fernão de Magalhães, a primeira volta ao mundo
Amor e sexualidade ao longo dos tempos
25 de Abril de 1974: Operação Fim Regime