Passados 80 anos sobre «o Dia da Infâmia», data em que as forças aeronavais do Império japonês desferiram, de surpresa, um fulminante e devastador ataque contra Pearl Harbor, recordamos, neste novo número da VISÃO História, já nas bancas, uma vertente da II Guerra Mundial algo esquecida, apesar de nos dizer diretamente respeito: o pesadelo vivido nas colónias portuguesas de Macau e de Timor, apanhadas pela força centrípeta do furacão da guerra. Timor chegou mesmo a ser ocupado, inicialmente por tropas australianas e holandesas, e depois pelas forças nipónicas, sendo o único território sob administração portuguesa militarmente envolvido no conflito.
Para documentar esse episódio, publicamos, nesta edição, um conjunto de fotografias, selecionadas a partir dos arquivos do Australian War Memorial, que ilustram a destruição da guerra em Díli, a capital, e nas aldeias do interior de Timor, assim como a rendição japonesa em 1945. As imagens, captadas por militares australianos que se refugiaram nas montanhas, na companhia de timorenses e de alguns portugueses, são um testemunho pouco conhecido, mas importante, da ocupação e resistência anti-nipónica naquela antiga colónia.
Depois de termos dedicado anteriores edições da VISÃO História à Batalha do Atlântico, à Frente Leste, aos primórdios do conflito e às vicissitudes vividas por Portugal entre 1939 e 1945, voltamos, assim, a abordar a II Guerra Mundial, analisando o capítulo da Guerra do Pacífico.
Para melhor compreendermos o envolvimento do Japão no conflito, vale a pena recordar como começou a «ameaça nipónica», recuando aos primórdios como potência industrializada e descrevendo as primeiras guerras contra a Rússia e contra a China. A seguir, ao abrigo de uma agressiva política expansionista, o Japão cruzou o Pacífico e desafiou os EUA com o lançamento da Operação Z, o nome por que ficaram conhecidas as duas vagas do ataque contra Pearl Harbor, a 7 de dezembro de 1941.
Outros alvos norte-americanos e britânicos no Pacífico foram bombardeados quase de imediato, permitindo ao invasor nipónico ocupar, em muito pouco tempo, uma vasta área do território asiático. Esses avanços do Império do Sol Nascente são detalhadamente descritos num mapa que publicamos nesta edição, com os principais marcos da Guerra do Pacífico.
Ao invadirem Hong Kong, os japoneses encontraram a resistência de portugueses e macaenses residentes na antiga colónia britânica, acabando muitos deles por serem detidos e mortos em campos de prisioneiros. Ali perto, em Macau, assistia-se ao drama dos refugiados que morriam de fome e de doença nas ruas do antigo território português, como se relata nas memórias da família Andrade e Silva. E no não muito distante Timor ocupado, vivia-se o pesadelo dos campos de concentração, onde estiveram detidos o pai, a mãe e a irmã do cantor Zeca Afonso e o avô do ex-ministro Miguel Relvas.
No conforto de São Bento, Salazar acompanhou o conflito à distância, pendendo ora para o lado do Eixo, ora para o lado dos Aliados. A um inflamado discurso na Assembleia Nacional contra a ocupação de Timor, seguiu-se o tempo da diplomacia. Com a ajuda dos EUA e do Reino Unido, Portugal conseguiu reaver Timor após a retirada do inimigo, frustrando as pretensões australianas. Os Açores foram a moeda de troca.
Enquanto isso, as grandes batalhas aeronavais, envolvendo porta-aviões, submarinos, outros navios e aviões, agitavam as mansas águas do Pacífico, no Mar de Coral e em Midway, permitindo o avanço das tropas aliadas. Desesperado, o Império do Sol Nascente contra-atacou, usando pilotos suicidas adolescentes nos ataques kamikaze. Mas a derrota chegaria com o lançamento de duas mortíferas bombas atómicas sobre Hiroxima e Nagasáqui, provocando milhares de mortos.
Como em qualquer guerra, também esta teve aquilo que os políticos mais pragmáticos designariam por «efeitos colaterais»: na costa oeste dos EUA, cerca de 120 mil cidadãos imigrantes, de origem nipónica, ficaram detidos em campos de «realocação» durante os anos do conflito e, nos territórios ocupados, milhares de mulheres foram aprisionadas e violadas em bordéis do Exército Imperial do Japão, para conforto dos seus soldados. Só 50 anos depois é que essas escravas sexuais tiveram a coragem de contar ao mundo a sua aterradora história.
Os artigos desta edição da VISÃO História que, numa perspetiva cronológica, analisam e detalham o envolvimento do Japão na II Guerra Mundial, são acompanhados por uma extensa cronologia e por grandes mapas que situam o leitor no teatro das operações militares no Pacífico. É mais uma visão da História a não perder.
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SUMÁRIO DESTA EDIÇÃO:
Cronologia Os principais marcos da ascensão e queda do Império do Sol Nascente, entre meados do século XIX e o final da II Guerra Mundial
JAPÃO
O nascimento do Japão Moderno Durante a Era Meiji, o período mais profícuo em transformações da história nipónica, o poder imperial foi restaurado, a influência dos samurais travada e o País modernizou-se, abrindo-se ao exterior por Pedro Caldeira Rodrigues
O Mikado humilha o Czar Na guerra russo-japonesa, o poder asiático emergente derrotou, pela primeira vez, uma potência europeia por Luís Almeida Martins
A emergência dos militares No período entre guerras, o Japão democratizou-se, mas acabou dominado pelas ambições expansionistas da direita nacionalista por Pedro Caldeira Rodrigues
A invasão da China Como a ocupação japonesa da Manchúria, em 1931, deu início a uma guerra que devastou parte do continente asiático por Helena F. S. Lopes
PEARL HARBOR
Pearl Harbor, o ‘Dia da Infâmia’ A 7 de dezembro de 1941, o ataque surpresa do Japão obrigou os EUA a envolverem-se num conflito que haveria de terminar 45 meses depois, com a derrota nipónica. Charles Braga Júnior, filho de açorianos, foi uma das 2 403 vítimas mortais da «operação Z» por Ricardo Silva
HONG KONG E MACAU
A luta por Hong Kong Duas companhias de portugueses e macaenses, residentes na colónia britânica, lutaram contra o invasor japonês. Alguns terminaram os seus dias em campos de prisioneiros por Ricardo Silva
Quando o mundo desabou em Macau O território viveu tempos dramáticos durante a guerra do Pacífico, quando milhares de refugiados da vizinha Hong Kong ocupada morreram de fome nas suas ruas por Hugo Pinto
As memórias da avó-espiã A vida da família Andrade e Silva em Macau, nos anos do conflito, contada em dois livros de memórias por Hugo Pinto
TIMOR
A guerra passou por Timor A ilha do Pacífico foi o único território sob administração portuguesa diretamente envolvido na II Guerra Mundial. Momentos dramáticos de uma ocupação – e resistência – pouco conhecidos até hoje por Ricardo Silva
Prisioneiros dos japoneses Mais de 500 portugueses estiveram detidos em campos de concentração durante a invasão de Timor. O pai, a mãe e a irmã de Zeca Afonso foram três das vítimas por J. Plácido Júnior
As manobras de Salazar Os EUA e o Reino Unido conseguiram travar as pretensões australianas sobre a antiga colónia portuguesa após a derrota nipónica. Os Açores serviram de moeda de troca por Pedro Vieira
GRANDES BATALHAS
Porta-aviões ao fundo! Depois de Pearl Harbor, a ofensiva japonesa nas águas do Pacífico começou a ser travada pelo contra-ataque dos americanos nas grandes batalhas do Mar de Coral e de Midway por Luís Almeida Martins
O último voo dos ‘Kamikaze’ Na fase final do conflito, o Japão lançou milhares de aviões-bombas contra navios inimigos. Alguns dos pilotos suicidas eram adolescentes por João Pacheco
O êxito dos submarinos Como os aliados transformaram os submarinos numa arma eficaz contra a marinha japonesa por Ricardo Silva
DURANTE A GUERRA
Campos de guerra Alegando razões de «segurança nacional», os EUA encarceraram 120 mil cidadãos de origem nipónica em campos de concentração por Clara Teixeira
Escravas de conforto Durante o conflito, milhares de mulheres de territórios ocupados foram aprisionadas e violadas, em bordéis exclusivos para militares por João Pacheco
O FIM
Furacão de fogo A explosão das bombas nucleares em Hiroxima e Nagasáqui levou à rendição do Japão, assinada a 2 de setembro de 1945 por Luís Almeida Martins
Esquecidos na selva Alguns soldados nipónicos só se renderam na década de 1970, quase 30 anos depois da capitulação do Japão.
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