No final do mês de outubro, os ponteiros do relógio recuaram uma hora para se dar início ao horário de inverno. Agora, a hora só voltará a mudar em março, uma medida que Portugal cumpre rigorosamente duas vezes ao ano por considerar que traz mais benefícios ao nível do aproveitamento da luz natural.
Apesar de haver um debate em torno da mudança de horário, em que muitos especialistas questionam se dos dias com mais luz natural decorre ou não uma efetiva poupança de energia, o certo é que com a chegada da nova estação vêm também dias mais curtos e mais frios, o que nos leva a adaptar a uma nova rotina e a ter que aquecer adequadamente as nossas casas.
Este é um desafio para muitos dos portugueses, que apresentam uma elevada incapacidade de manter a sua habitação aquecida. De acordo com um relatório publicado pelo executivo comunitário, 20,8% da população portuguesa não consegue manter a casa devidamente aquecida, um número que se prevê aumentar em 2025 com o aumento de 2,1% do preço da energia, proposto recentemente pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE). São dados particularmente alarmantes que colocam Portugal no topo da lista dos países da União Europeia em termos de pobreza energética, exigindo a intervenção do Governo para combater esta situação que afeta a generalidade dos portugueses, em especial, as famílias com crianças e jovens.
A situação de pobreza energética existente em Portugal é explicada, em larga medida, pelo nosso parque habitacional, que se caracteriza como pouco eficiente do ponto de vista energético. Ao contrário de países como a Alemanha ou a Suécia, onde sempre existiu a preocupação de projetar habitações com capacidade para reter o calor e reduzir o consumo de energia, em Portugal, só muito recentemente é que o isolamento térmico e a eficiência energética passaram a ser aspetos a ter em conta na construção.
Como resultado, praticamente todos nós, portugueses, vivemos desconfortáveis nas nossas próprias casas, sobretudo durante os meses mais frios. Nesse sentido, a requalificação das infraestruturas é imprescindível.
Apesar de ainda não ter alcançado os resultados desejados, neste campo, o Governo já concretizou algumas medidas, tais como o ‘Vale Eficiência’. Desenvolvido pelo Fundo Ambiental, este programa visa a atribuição de financiamento a particulares que habitem em edifícios em situação de pobreza energética, com vista a melhorar o conforto térmico das casas, através de obras ou de equipamentos e soluções energeticamente eficientes.
Da mesma forma, também a literacia energética é um pilar fundamental para reverter a atual situação. Nesse sentido, campanhas informativas sobre o uso eficiente de energia podem ajudar a população a compreender como podem reduzir o consumo de energia e a dependência de sistemas de aquecimento pouco sustentáveis, tais como termoventiladores. Em simultâneo, estas campanhas permitem dar a conhecer novas técnicas de isolamento térmico ou opções de equipamentos mais eficientes e adaptados à sua situação em particular, como é o caso do sistema de ar condicionado, uma solução economicamente mais viável para o parque edificado existente, pois é de fácil instalação e permite a climatização para todo o ano
Faz todo o sentido lançar uma calculadora energética e económica, que para cada tipologia de agregado familiar e de habitação, permitiria aferir qual a solução energética mais viável e em quanto tempo terá o retorno económico do investimento. Desta forma, a população poderá tomar uma decisão mais informada e consciente das suas consequências na fatura energética.
À medida que as temperaturas descem, é triste perceber que muitos dos portugueses – e não só os economicamente mais vulneráveis – optam por fazer horas em espaços públicos como centros comerciais simplesmente porque se encontram devidamente aquecidos, o que não acontece em suas casas. Não, não é suposto ser assim.
No que toca ao combate à pobreza energética, não tenho muitas dúvidas que o caminho passa pelo reforço de medidas de apoio à renovação das infraestruturas e pela aposta na literacia energética, de modo que todos nós possamos estar termicamente confortáveis em nossas casas.