
A subida de 2 ºC da temperatura global é o cenário que os cientistas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas apontam como provável até 2100 caso nada seja feito para travar o aquecimento. No entanto, a situação pode ser mais catastrófica já a curto prazo, segundo um recente estudo realizado pelo Met Office, o instituto de meteorologia do Reino Unido.
Apresentado na COP26, que se realiza em Glasgow até sexta-feira, o estudo revela que o stress térmico extremo – a combinação de calor e humidade, que pode matar – causado pela subida de 2 ºC vai afetar mil milhões de pessoas em todo o mundo, um número 15 vezes maior do que o atual de afetados pela subida das temperaturas. Se a temperatura subir 4 ºC, metade da população estará em zonas consideradas de risco.
Para chegarem a estas conclusões, os cientistas, que recorreram aos dados do projeto Helix, basearam-se na temperatura do bolbo húmido, um padrão de medição internacional que permite calcular o stresse a que as pessoas são sujeitas perante episódios de calor e humidade acima do recomendado. Na prática, os investigadores concluíram que, se esta medida atingir os 35 ºC, “o corpo humano não consegue arrefecer com o suor e até as pessoas saudáveis que estejam à sombra podem morrer em apenas seis horas”, cita o The Guardian. Para o Met Office, a temperatura do bolbo húmido de 32 ºC é o limite, devendo os trabalhadores fazer pausas para evitar a exaustão causada pelo calor. Em 2020, um estudo publicado na Science Advanced já tinha alertado para os ricos de a temperatura do bolbo húmido chegar aos 35 ºC. A combinação de calor e humidade pode ser potencialmente fatal e já está a afetar várias partes do mundo.
Para Andy Hartley, do Met Office, “acima deste nível, as pessoas passam a estar em risco extremo. Os membros mais vulneráveis da população e aqueles que têm trabalhos físicos ao ar livre são os que correm maior risco de sofrer efeitos adversos à saúde”.
De acordo com o The Guardian, que cita a investigação apresentada na 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP26), os países tropicais, como o Brasil, a Etiópia e a Índia, são os mais atingidos pelo calor extremo, sendo que algumas regiões chegam mesmo ao limite da capacidade de vida humana. Segundo os mapas apresentados, Portugal está nos níveis 1 e 2 de risco, sendo que o sul de Portugal acaba por ser a região mais à mercê dos efeitos da subida global da temperatura.