“O “B” grande significa benefícios para todos.” Assim explica Laetitia Arrighi de Casanova, diretora da B Lab Portugal a escolha da letra B para o nome da rede sem fins lucrativos (criada nos EUA em 2006) que tenta ajudar as empresas a trilharem o caminho da sustentabilidade. No final desse processo, a B Lab emite um certificado (B Corp), que acaba por ser uma forma de os consumidores identificarem empresas e produtos sustentáveis – na prática, distinguindo a real sustentabilidade do greenwashing.
“É uma visão diferente do negócio, que deve beneficiar todos, não só o acionista, mas também as pessoas e o planeta. As empresas que decidem inspirar-se neste modelo e ir até à certificação, que é outro caminho, têm um compromisso muito particular com padrões de sustentabilidade muito elevados em matéria ambiental, social e societal. É isso que abrange o movimento B Corp.”
O processo de certificação mede o impacto positivo em várias áreas, explica: “O domínio do ambiente, dos clientes, das comunidades à volta da empresa, dos benefícios em termos de governança e para o colaborador.” O processo parte de 200 perguntas a que as empresas têm de responder.
Mais importante do que o fim – a certificação em si – é o próprio percurso. “O propósito do movimento B Corp é ajudar as empresas a fazerem progressos e a medirem os seus impactos.” Ou seja, é proporcionada às empresas uma ferramenta, gratuita e aberta a todos, chamada B Impact Assessment, para perceberem onde podem melhorar, do ponto de vista da sustentabilidade. Neste momento, há 241 mil utilizadores desta ferramenta e 7500 empresas certificadas. “Não é só um selo de certificação, é reconhecer os esforços e perceber onde é preciso fazer mais.”
Os consumidores nem sempre recompensam as empresas mais sustentáveis, sendo que há outros fatores que continuam a sobrepor-se como fator decisivo no consumo. Mas há outras razões para as empresas embarcarem nestes processos de certificação, continua Laetitia Arrighi de Casanova. “Numa sondagem feita a empresas na Europa, com a participação de Portugal, 50% disseram que melhorou a eficiência da empresa, 50% que impactou a estratégia de longo prazo e 44% que melhorou a capacidade de identificar oportunidades de crescimento e necessidades de gestão do risco. Portanto, é algo que toca bastante fundo na própria maneira de gerir e de desenvolver uma empresa. Não é só um reconhecimento. Claro que depois é um fator diferenciador, mas o primeiro ponto tem que ver com a orientação, com estratégias de posicionamento, com a preparação para fazer face ao mundo de hoje, com os riscos das alterações climáticas e demográficas profundas que estamos a viver.”
Há também vantagens para a empresa no que respeita à satisfação dos seus próprios trabalhadores e como forma de atração para novos talentos, continua a diretora da B Lab Portugal. “Uma sondagem recente diz que 25% dos candidatos dizem que uma empresa ser B Corp foi uma das razões para se candidatar.” Essa é uma tendência que se estende à academia. “Numa conversa com alunos da Universidade Nova, vimos o entusiasmo dos estudantes, percebemos como isto impacta a sua motivação.”
O B Corp é igualmente uma arma para as empresas se protegerem da legislação europeia antigreenwashing recentemente aprovada, garantindo que têm uma postura realmente sustentável. “O certificado B Corp não é fácil de obter, nem pretende sê-lo. Corresponde a padrões elevados e há uma recertificação de três em três anos, em que as empresas têm um convite para melhorarem. Comprometerem-se com o progresso contínuo é também uma garantia.”
Em Portugal, há já 30 empresas portuguesas com o certificado B Corp, a que se juntam 20 multinacionais presentes no País.
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