Portugal é dos países da União Europeia com os objetivos de reciclagem mais atrasados. Campanhas atrás de campanhas não têm conseguido convencer os portugueses a separarem o seu lixo, o que levou uma empresa a querer fazê-lo da forma com a linguagem que todos compreendem: dinheiro. O projeto Bee2WasteCrypto, do Programa Carnegie Mellon Portugal, liderado pela Compta em colaboração com a NOVA Information Management School, o Instituto Superior Técnico e a empresa 3drivers, pretende utilizar a tecnologia blockchain para recompensar os cidadãos cumpridores com criptomoeda.
“O resíduo tem um valor, e esse valor pode ser transmitido, vendido e comprado”, explica Paulo Fernandes, CEO da Future Compta, na entrevista semanal da VISÃO VERDE. “Estamos a criar uma criptomoeda que valoriza o meu resíduo. Se eu depositar um saco de embalagens bem separadas e limpas, este saco tem um determinado valor, que é transformado em criptomoeada, de forma a que possa trocar com o meu município. Em vez de gastar 100 euros para tratar aquele lixo, o município só vai gastar 20. Então, os outros 80 podem ser devolvidos a mim.”
Esta é uma das várias formas que a tecnologia tem para ajudar os municípios a reduzir os seus custos com resíduos. “Há soluções que ajudam a acompanhar todo o processo de gestão de resíduos, que tentam otimizar todo o processo, passando pela instalação de sondas nos próprios contentores para saber quando estão cheios, por exemplo, ou fazendo otimização das rotas”, diz Paulo Fernandes, acrescentado que, em alguns municípios, o orçamento da recolha do lixo chega a representar 50% do orçamento do município. “Se pudermos melhorar o processo, poupamos muito dinheiro: gasto menos gasóleo, menos horas de trabalho… Há municípios em que um camião chega a recolher 800 contentores.”
Dê uma segunda vida à roupa
A quantidade de resíduos está a aumentar em Portugal, o que é (também) um indicador de riqueza. “Está relacionado com o nosso bem-estar. Quando as pessoas são pobres, produzem poucos resíduos”, lembra o presidente da Future Compta.
Produzimos muito lixo e reciclamos pouco, ainda que haja uma grande disparidade entre concelhos. “Trabalhamos com municípios que têm 30 e muitos por cento de reciclagem e outros que não passam de 2 ou 3 por cento. E não é por terem ou não terem dinheiro. É uma questão cultural, de preocupação com o resíduo.”
As roupas, por exemplo, que têm um grande potencial de reciclagem e reutilização, “é uma das áreas que está muito pouco organizada”, sublinha. “As roupas são um resíduo, e a percentagem que vai parar aos indiferenciados é um problema real. É importante pô-la em sítios para reciclar. Há algumas empresas que recolhem e processam para matéria-prima ou a exportam para outros países. Mas acima de tudo devemos tentar que a roupa tenha uma segunda vida.”
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