O Roots & Shoots, o programa de educação ambiental criado por Jane Goodal, arrancou com 16 estudantes da Tanzânia, em 1991, e alastrou a dezenas de países. Em Portugal, o projeto iniciou-se em 2006, pela mão da Sociedade Portuguesa para a Educação Humanitária (SPEdH), na sequência de um congresso que organizou sobre o bem-estar animal, em Lisboa, encerrado precisamente pela famosa primatóloga, na sua primeira visita ao nosso país.
Na entrevista da VISÃO VERDE desta terça-feira (na semana em que a revista VISÃO vai para as bancas com uma entrevista exclusiva a Jane Goodall), Maria Francisca de Abreu Afonso, uma das coordenadoras do programa em Portugal, explicou a essência do Roots & Shoots e falou sobre a mulher que o criou – e com quem ela passou uma semana num encontro internacional do programa há três anos.
“Um dos pontos altos da minha vida foi ter conhecido a Jane, em 2018. Tive o prazer de passar uma semana a privar com ela: pequeno-almoço, almoço, jantar. Tem um sentido de humor incrível, desconcertante.” Quanto ao legado da cientista e conservacionista, não tem dúvidas: “Ela sempre teve o sonho de estudar animais em África, numa altura em que não era comum nem bem visto uma mulher ir para o meio dos animais, para a selva, desprotegida. A Jane tornou-se um ícone feminino, do que é uma mulher cientista e com sonhos. É inspiradora. O trabalho dela mudou a forma como se faz investigação animal. Hoje, 90% dos santuários são geridos por mulheres e 62% dos primatólogos são mulheres.”
Resolver a pobreza
Maria Francisca descreve o Roots & Shoots como uma forma de cada de um de nós operarmos a mudança resolvendo os problemas que nos são mais próximos. “O lema é ‘pensa globalmente, age localmente’.” O programa assenta em três pilares: pessoas, animais e ambiente. “Estas três unidades estão ligadas. Podemos ajudar de maneiras diferentes. Os problemas ambientais têm um impacto gigantesco nas pessoas mais pobres”, diz.
Resolver a pobreza é, aliás, a melhor forma de lidar com os problemas ambientais do mundo. “Se uma pessoa precisa de abater uma árvore para dar de comer à sua família, é legítimo que o faça. Nós faríamos o mesmo se estivéssemos nessa posição. Não temos o direito de criticar.”
O Roots & Shoots funciona de forma descentralizada, com grupos locais. Qualquer pessoa pode formar um grupo Roots & Shoots com amigos, na escola, na família. O único requisito dos grupos é fazerem, por ano, pelo menos um projeto que ajude um ou mais dos três pilares do programa.
Em Portugal, desde a sua criação, os projetos têm passado por plantação de árvores, limpeza de praias, reabilitações de parques, criação de postos de compostagem, ajuda a animais de rua e de canis, recolha de roupa para doação, ensino de Português a imigrantes e prevenção de bullying e de racismo. O Roots & Shoots é financiado por donativos. Ao nível mundial, e tal como o Instituto Jane Goodall, tem a classificação máxima de transparência (quatro estrelas), atribuída pela Charity Navigator.
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