Vila Real, 22 jan 2024 –
A UTAD, em Vila Real, foi chamada para estudar o impacto que a rotura de uma barragem de um complexo mineiro, em Minas Gerais, teve nos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, a possibilidade de recuperação para parâmetros idênticos à situação antes do desastre que aconteceu a 25 de janeiro de 2019, bem como a reposição do consumo humano através do rio Paraopeba.
“Doze milhões de metros cúbicos de lama rica em ferro e manganês invadiram uma série de linhas e margens impactando os ecossistemas”, contou hoje à agência Lusa Luís Filipe Fernandes, investigador do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da UTAD e um dos coordenadores do projeto que decorre há três anos.
Em consequência do desastre, 270 pessoas morreram em Brumadinho e o município ficou parcialmente destruído por um mar de lama e resíduos.
A barragem do complexo mineiro da empresa Vale estava localizada no ribeirão Ferro-Carvão, um afluente do Paraopeba, rio que abastecia 30% da área metropolitana de Belo Horizonte. O abastecimento foi suspenso afetando três milhões de pessoas.
Em consequência do desastre, a empresa mineira assinou um termo de compromisso para indemnizações pelos danos causados que rondou os sete mil milhões de euros só para a parte ambiental e recuperação do rio.
Luís Filipe Fernandes referiu que foi aqui que, por intermédio da secretária de Estado do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais e do Ministério Público local, entrou a UTAD, instituição que há mais de uma década desenvolve investigação em colaboração com universidades brasileiras.
Fernando Pacheco, investigador do Centro de Química da UTAD, explicou que, na área atingida, foram instaladas 40 estações de monitorização que mediram regularmente cerca de 70 parâmetros, entre os quais os metais pesados.
“O impacto em termos de água foi muito grande”, realçou o também coordenador do projeto, referindo que esse impacto tem vindo a ser atenuado, quer de forma natural quer através da remoção, por parte da empresa, dos rejeitos (resíduos sólidos resultantes dos processos de beneficiamento a que são submetidas as substâncias minerais) para o local da mina.
O docente disse tratar-se de um rio, já antes do desastre, muito afetado pela atividade mineira e industrial.
Adiantou ainda que a remoção dos rejeitos, que está a ser feita pela empresa através de máquinas e dragagens, “está a mitigar o problema”.
A investigação estima que as dragagens contribuam em cerca de 30% para “atenuar das concentrações” de metais a níveis antes da rutura, resultando os restantes 70% de “uma lavagem natural”.
“Temos pressionado através dos nossos artigos para que as dragagens sejam mais aceleradas porque, para nós, é de facto o elemento mais importante para o restabelecimento”, afirmou Fernando Pacheco.
As previsões iniciais apontavam para uma normalização da situação no rio Paraopeba em “sete a 11 anos”.
Com a recolha de dados e modelações feitas entretanto, Fernando Pacheco acredita que pode acontecer “em menos tempo” do que inicialmente previsto.
O investigador estima que a qualidade da água fique idêntica ao que estava antes em “dois a três anos”, reforçando que o rio já apresentava não-conformidades.
Segundo os especialistas, na estação do ano mais seca no Brasil até já poderia ser reposto o abastecimento para consumo humano, com o devido tratamento, mas ainda não na época mais chuvosa.
Relativamente às águas subterrâneas, concluíram que não se pode atribuir ao rompimento “um papel especial” e que, apesar de não ser o foco do trabalho, os estudos apontam para que o excesso de ferro nas margens do rio possa ainda estar a degradar a mata ripária.
Fernando Pacheco disse que este terá sido um dos acidentes com uma barragem de rejeitos “mais documentado a nível mundial”.
Segundo Luís Filipe Fernandes, a equipa terá cerca de 30 artigos científicos publicados no âmbito do projeto Entire – análise dos impactos de rejeitos em rompimentos de barragens para um ambiente aquático restaurado.
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