Investigadores argentinos conseguiram, através da edição genética, criar uma batata que não escurece depois de cortada, descascada ou mal manuseada. A nova variedade, conseguida através da técnica de edição genética CRISPR-Cas9, mostrou em testes resistir durante 48 horas sem alterações, ao passo que as batatas comuns começam a ficar enegrecidas ao fim de poucos minutos.
A descoloração enzimática é uma reação química, que acontece na maioria dos frutos e vegetais, provocada pela exposição ao oxigénio, afetando o aspeto, o valor nutritivo e o sabor dos produtos.
Para impedir o enegrecimento, os cientistas argentinos envolvidos na investigação, do Instituto Nacional de Tecnologia Agrícola, “desligaram” o gene responsável pela reação química. Uma vez que a técnica utilizada não é considerada engenharia genética clássica (ou seja, não foram introduzidos genes de outra espécie), a entidade reguladora do país não considera que a nova batata seja um transgénico, explica a Agro-Bio, a associação argentina de biotecnologia vegetal agrícola. Isto significa que o produto segue os trâmites simplificados de aprovação para novas variedades convencionais, em vez do longo e complexo processo que acompanha os organismos geneticamente modificados antes de serem autorizados a entrar no mercado.
A descoloração é uma das principais (se não a principal) causas de desperdício alimentar no mundo: calcula-se que cerca de 50% das frutas e dos vegetais se percam devido ao enegrecimento.
Nas bananas, por exemplo, a descoloração está na base do desperdício de 50 milhões de toneladas por ano (43% da produção total de 117 milhões de toneladas). No caso das batatas, os agricultores perdem milhões de toneladas no processo de apanha e transporte, devido ao impacto.
Além das perdas económicas, o desperdício alimentar tem um enorme impacto nas alterações climáticas: representam metade das emissões de gases com efeito de estufa dos sistemas alimentares – sendo que um terço das emissões globais se devem aos sistemas alimentares. Se este “silenciamento” do gene da descoloração enzimática for alargado a outros vegetais, pode ajudar a diminuir o desperdício e, com ele, as emissões do setor da alimentação.
A batata, o terceiro alimento mais consumido no mundo, depois do arroz e do trigo, tem origem na região que é hoje o Peru e a Bolívia. Começou a ser cultivada há cerca de 8 mil anos e chegou à Europa, trazida por exploradores, em finais do século XVI; daqui, rapidamente se espalhou pelo resto do mundo. A produção anual de batata está estimada em 300 milhões de toneladas.