Gabriel Serra anda muito de bicicleta, mas nunca gostou de usar capacete. “São inconvenientes para transportar, para guardar…”
O aluno de doutoramento em Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro não era o único a sacrificar segurança em nome da conveniência, com os resultados expectáveis. “Vi que estavam a surgir imensos acidentes com o aumento da micromobilidade, do uso de trotinetas e bicicletas, com muitos traumatismos cranioencefálicos.”
Juntando o útil ao sustentável, Gabriel decidiu desenhar um capacete que se pode achatar, para se transportar mais facilmente, evitando, pelo caminho, o plástico e as espumas artificiais. “Os capacetes tradicionais são feitos com espuma de EPS, responsável pela absorção da energia do impacto, que é um material derivado do petróleo.” Além disso, explica, devido à forma como os capacetes são fabricados, com a espuma colada ao plástico, não há reciclagem possível no fim de vida do produto.
Foi assim que nasceu o Flattie (nome derivado de “flat”, a palavra inglesa para “plano” ou “achatado”), feito com cortiça aglomerada, em vez de EPS, e totalmente reciclável. Ao fim de dois anos de desenvolvimento, Gabriel concorreu e venceu o The James Dyson Award – um prémio anual com o nome do inventor inglês que decorre em vários países, sendo que 20 vencedores e finalistas nacionais concorrem ao grande prémio, anunciado em novembro. O prémio nacional vale €5 700; o internacional, €34 mil.
O estudante de doutoramento, licenciado em design industrial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, procura agora parceiros para ajudar a produzir e a vender o Flattie. “Ainda não temos a certificação para o comercializar, porque o processo ainda não foi finalizado, mas já fizemos simulações num laboratório certificado, de acordo com a norma europeia 1078, e o capacete passou.”
Gabriel ainda não sabe quanto vai custar o Flattie, mas admite que será relativamente caro, atendendo aos materiais utilizados e ao objetivo de ser produzido em Portugal. “Não seria para competir com os mais baratos do mercado. É impossível fazer concorrência aos produtos de plástico produzidos em larga escala na China. Mas ficaria abaixo do valor dos poucos capacetes dobráveis que hoje existem no mercado, que custam €150 a €200.”