Idealmente, os “céus” deveriam enviar-nos a chuva apenas quando é necessária e em quantidades que o ecossistema estivesse preparado para absorver. No entanto, a natureza é imprevisível e as alterações climáticas têm vindo a agravar a sua “irracionalidade”, multiplicando fenómenos extremos, responsáveis por cenários de devastação em todo o mundo.
Para minimizar as consequências destas manifestações naturais mais violentas, é crucial planear o território, e prever a construção de infraestruturas verdes, características do conceito “Cidades-Esponja”, cuja função é absorver, infiltrar, armazenar e reaproveitar a água da chuva em excesso, encaminhando parte para sistemas de abastecimento ou de reutilização. Exemplo destas infraestruturas são as bacias de retenção – também chamadas de bacias antipoluição que podem mesmo ser lagos naturais –, situadas em pontos estratégicos das cidades, que reduzem a velocidade da água, atrasando, de forma controlada, a sua descida para as zonas baixas, onde tendencialmente se verifica uma maior probabilidade de cheias. Outro caso que merece destaque são os jardins alagáveis, que, com biodiversidade selecionada e capacidade de absorção da água, inundam na época da chuva, formando belos lagos naturais.
As múltiplas boas práticas do conceito “Cidade-Esponja” merecem ser replicadas no planeamento global das cidades. Em Portugal, Lisboa foi uma das pioneiras do conceito “Cidade-Esponja”, tendo desenvolvido um Plano Geral de Drenagem que já foi mimetizado por vários municípios. Atualmente, numa visita ao Estádio da Luz, um olhar mais atento já pode observar o sistema criado pelo Benfica para recolha da água da chuva e posterior lavagem sustentável das bancadas. Também a nova Praça de Espanha, desenhada à luz do conceito de jardins alagáveis – com biodiversidade selecionada e capacidade de absorção da água -, reflete um planeamento urbano sensível à água, subjacente à construção dos campos polidesportivos enterrados que, desta forma, cumprem a função de bacias de retenção.
Estamos todos conscientes de que “É preciso agir!”. É urgente rever os planos de ordenamento, criar corredores verdes contínuos nas cidades, mas também nos campos agrícolas, reutilizar água sempre que possível, poupar através da utilização de redes mais inteligentes e, acima de tudo, implementar estratégias, no longo prazo, de diversidade, adaptadas à realidade de cada região.
O Governo português tem vindo a apoiar, através do fundo ambiental POSEUR e do projeto EEA Grants, entre outros, várias iniciativas para mitigar as consequências das alterações climáticas, nomeadamente no que diz respeito à simplificação da legislação e regulamentação ambiental, fundamentais para que a mudança aconteça com a rapidez necessária. Mas cabe também, e sobretudo, a cada um de nós ser uma “esponja” do conhecimento e das boas práticas, minimizando, no nosso quotidiano, o impacto das alterações climáticas em nome da possibilidade de um futuro sustentável.