Um painel de especialistas das Nações Unidas divulgou esta semana os últimos resultados de uma avaliação ao ozono na atmosfera, e as notícias dificilmente podiam ser melhores: a camada de ozono, que protege a Terra de raios ultravioleta, tem estado a recuperar e tudo indica que o problema estará totalmente resolvido nas próximas quatro décadas, voltando a valores de 1980. As estimativas é que o buraco sobre a Antártida já não exista em 2066, ao passo que no resto do mundo a camada de ozono deverá estar consolidada até 2040. No Ártico, aponta-se para 2045.
Nos bastidores desta recuperação encontra-se o Protocolo de Montreal, de 1987, ratificado pelos 198 membros das Nações Unidas, que determinou a eliminação progressiva dos químicos que afetam a camada de ozono, nomeadamente os CFC (clorofluorocarbonetos, então muito usados como gases para refrigeração). O acordo foi definido apenas dois anos depois de o buraco ter sido descoberto na Antártida, durante uma expedição científica britânica. Poucos anos antes, tinha já sido identificado o impacto dos CFC na atmosfera.
A análise ao estado da camada de ozono foi apresentada esta segunda-feira, 9, durante a conferência anual da Sociedade Meteorológica Americana. Foi ainda sublinhado que um efeito colateral de uma emenda recente ao Protocolo de Montreal, feita em 2016, para eliminar os hidrofluorocarbonetos terá como resultado uma diminuição da subida da temperatura média global entre 0,3º C e 0,5º C até 2100.
O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM) comentou os resultados, defendendo que este sucesso pode ser encarado como um precursor para o combate às alterações climáticas. “A ação do ozono estabelece um precedente para a ação climática. O nosso sucesso na eliminação gradual de produtos químicos que “comem” ozono mostra-nos o que pode e deve ser feito – com urgência – para fazermos a transição para longe dos combustíveis fósseis, reduzir os gases de efeito estufa e assim limitar o aumento da temperatura”, disse Petteri Taalas.
Apesar do otimismo demonstrado pelo líder da OMM, muitos especialistas têm lembrado que resolver o problema do aquecimento global é incomparavelmente mais difícil do que o do buraco do ozono. O primeiro obriga a uma transição estrutural nas sociedades, sobretudo a nível da energia, dos transportes e da alimentação, enquanto o segundo passa pela eliminação de certos gases facilmente substituíveis.