Incêndios e pragas têm levado a uma redução ininterrupta da área de pinheiro-bravo no nosso país. A concorrência do eucalipto, que dá um retorno do investimento mais rápido, é outra causa de peso para o declínio da espécie. Mas a fileira do pinheiro continua a tentar encontrar soluções para recuperar a popularidade da árvore e torná-la mais competitiva.
É esse o objetivo de um projeto de investigação e desenvolvimento da empresa portuguesa Sonae Arauco, uma das maiores do mundo no setor dos derivados de madeira. A equipa fez um ensaio com mais de 200 mil sementes de pinheiro-bravo e pinheiro-radiata (uma espécie do Novo Mundo), de 136 famílias diferentes, que deu resultados promissores para o setor, com certas variedades a serem ainda mais resistentes a condições difíceis do que o pinheiro-bravo, uma espécie já de si muito robusta.
“O setor tem problemas estruturais de gestão, além dos incêndios, que fazem diminuir a produtividade do pinheiro”, lembra Nuno Calado, Wood Regulation & Sustainability Manager da Sonae Arauco e responsável pela investigação. Foi por essa razão que a equipa decidiu testar pinheiros-radiatas chilenos, decorrentes de melhoramento genético (cruzamento entre plantas, não bioengenharia), para tentar encontrar variedades mais produtivas nos diferentes tipos de solos e condições climáticas portuguesas. Estas variedades foram comparadas em vários locais com pinheiros-bravos nacionais e franceses, além de outros radiatas de Espanha e França.
“Fizemos seis ensaios, em solos arenosos, xistosos e graníticos, dispersos pelo País, e avaliámos a mortalidade. O objetivo é ter a planta certa no local certo, para que o produtor possa retirar a melhor rentabilidade possível”, explica Nuno Calado. Os resultados preliminares indiciam que, apesar de o pinheiro-bravo ser geralmente mais resistente do que a espécie americana, “algumas famílias de radiata do Chile mostraram-se mais resistentes à secura do que o bravo”. Uma característica que pode vir a fazer a diferença no Centro-Sul da Península Ibérica, que será cada vez mais árido, devido aos efeitos das alterações climáticas.
Este é “um estudo inovador”, continua o representante da empresa, “porque é a primeira vez que se avalia a produtividade de plantas [pinheiros] de melhoramento genético”. Este pode ser um primeiro passo importante para tornar o pinheiro mais atrativo enquanto investimento, até porque o radiata cresce mais depressa do que o pinheiro-bravo e o produto final tem o mesmo valor económico.
O estudo ainda está longe de terminar. A fase seguinte vai avaliar o crescimento individual de cada árvore e identificar quais as famílias mais produtivas. As melhores serão, então, selecionadas e reproduzidas em larga escala.