Ao contrário do vidro e do metal, o plástico não é 100% reciclável. Ao ser derretido, perde algumas das suas características que o tornam tão apetecível, como a manuseabilidade, a durabilidade e a impermeabilidade. Entre outras coisas, para manter a qualidade de forma a torná-lo competitivo no mercado, o plástico reciclado tem de ser misturado com polímeros novos, pelo que muito dificilmente se encontram produtos fabricados com material 100% reciclado.
Mas um grupo de investigadores acredita ter desenvolvido uma enzima que pode resolver grande parte dos problemas atuais de reciclagem. A equipa, que inclui cientistas de quatro universidades americanas e uma britânica, combinou duas enzimas, encontradas numa bactéria que se alimenta naturalmente de plástico – descoberta num aterro japonês, em 2016 -, criando uma superenzima. O novo “bicho” consegue desintegrar o plástico seis vezes mais rapidamente do que a enzima original (desenvolvida há dois anos a partir da bactéria japonesa), o que surpreendeu os próprios investigadores. O estudo foi publicado na PNAS (Proceedings of the National Academy of Sciences, dos EUA), uma das mais importantes revistas científicas do mundo.
“Quando combinámos as enzimas, obtivemos, de forma inesperada, um aumento dramático de atividade”, disse ao The Guardian John McGeehan, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, um dos envolvidos no projeto. “Este é um caminho para tentar criar enzimas mais rápidas e mais relevantes para a indústria [de reciclagem]. Mas também é uma daquelas histórias sobre aprender com a natureza e depois levá-la para o laboratório.”
Outra vantagem desta superenzima é que funciona à temperatura ambiente. Em abril deste ano, uma empresa francesa anunciara a criação de uma enzima com capacidade de desintegrar 90% de uma garrafa de plástico em 10 horas, mas o processo precisa de uma temperatura de 70ºC para funcionar. As tecnologias, no entanto, não têm de ser concorrentes – o cruzamento de enzimas pode conduzir os investigadores a outra ainda mais eficiente.
Pior do que as garrafas de plástico, que apesar de tudo são feitas do mesmo material (o que facilita a reciclagem), é quando o produto é fabricado a partir de uma mistura de diferentes substâncias, como no caso da roupa, normalmente constituída por plástico e materiais naturais, como o algodão.
Também para estas situações a nova enzima pode dar uma ajuda, combinando-a com outras enzimas naturais que se alimentam de algodão. O trabalho de equipa destas enzimas pode ajudar a resolver o problema de milhões de toneladas de roupa que todos os anos acabam em aterros.
Ao contrário de outros projetos deste tipo, que são muitas vezes de difícil e demorada aplicação prática, este poderá estar pronto para ser utilizado na indústria, em larga escala, dentro de um ou dois anos.