Ashraf Shazly, um fotógrafo de Cartum, capital do Sudão, estava a fazer um passeio ocasional quando se cruzou com cinco leões malnutridos, enjaulados e praticamente sem forças para se movimentarem, no parque de Al-Qureshi. O sudanês fotografou os animais e publicou as imagens no Facebook.“Depois de ver os incêndios na Austrália matarem tantas criaturas preciosas, ver estes animais enjaulados e a serem tratados desta maneira fez o meu sangue ferver”, disse Salih, no post, publicado no sábado, 18.
O zoo Al-Qureshi é administrado pelo governo da cidade e financiado em parte por doadores privados. “Nem sempre há comida disponível; muitas vezes compramos com o nosso próprio dinheiro para alimentá-los”, disse Essamelddine Hajjar, gerente do parque, à Agência France Press. Os administradores atribuem a culpa aos responsáveis do governo pela gestão da vida selvagem. “A receita mensal do parque não é suficiente para alimentar um leão por uma semana”, disse Salih, num dos seus vários posts.
Desde a partilha inicial, Salih vai atualizando o caso, juntamente com fotografias e vídeos dos leões. Esta segunda-feira, Salih revelou através do seu Facebook que uma das felinas acabou por não resistir à severa desnutrição.
As publicações atraíram a atenção de milhares de pessoas, alastrando-se por várias redes sociais em todo o mundo e iniciando uma campanha online que adotou a hashtag #SudanAnimalRescue. O grupo de leões já foi ajudado com doações de carne picada feitas por locais; a associação não lucrativa Four Paws também já ofereceu ajuda para reabilitar estes e outros leões em território sudanês. Embora já tenha havido muitas ofertas de assistência financeira, Salih ainda não criou um plano para recolher as doações, isto depois de lhe ter sido negado o uso dos fundos doados através da aplicação GoFundMe, devido ao facto de o Sudão ser alvo de sanções económicas por parte dos EUA.
Os leões africanos são classificados como espécie “vulnerável” pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN). A população desta espécie de felinos caiu 43% entre 1993 e 2014. Restam cerca de 20 mil animais, atualmente.
O episódio acontece numa altura em que o Sudão atravessa uma crise económica que se traduz num acentuado aumento dos preços dos alimentos e na escassez de moeda estrangeira. Desde dezembro de 2018 que uma onda de protestos assola o país, com os manifestantes a exigirem medidas pró-democracia.