Sol brilhante, manhã de praia. Nos ancoradouros da marina da Póvoa de Varzim, o motor do barco já ronrona. “Vamos demorar 45 minutos a chegar à plataforma”, avisa Luís Manuel, 37 anos, administrador da EDP Inovação. O destino é a windfloat, uma estação eólica situada a 5,5 quilómetros da costa da Aguçadoura.
O projeto experimental em que a EDP Inovação é um dos principais acionistas está no local desde 8 de outubro de 2011 e desde 23 de dezembro que começou a debitar energia na rede. “O mais importante era demonstrar que isto funciona”, diz Luís Manuel. “E funciona.” O mar está “chão”, o barco vai cheio. Uma equipa de uma produtora alemã aproveitou a visita para gravar um vídeo promocional, sobre sustentabilidade, para a Comissão Europeia. No deck da lancha seguimos oito pessoas conforme progredimos, um ponto minúsculo em alto-mar vai ganhando dimensão e definição. Em breve, passam a ser visíveis as gigantes pás da turbina.
Luís tenta encontrar um ponto de apoio na amurada do barco, para gravar um depoimento para a equipa alemã. “O vento sopra de forma mais estável, no mar. E o impacto visual das torres é menor”, sintetiza o responsável pela EDP Inovação enquanto se equilibra para as filmagens. Desde a ligação à rede, o ano passado, a torre eólica já produziu energia suficiente para abastecer 1600 habitações, ou seja, 2,4 gigawatts-hora.
As pás com 40 metros de envergadura rodam sincopadamente. Estão suspensas de uma torre com 67 metros (mais de duas vezes a altura do Arco da Rua Augusta, em Lisboa) que assenta numa plataforma flutuante. A estrutura está ligada, por cabos e âncoras, ao fundo do mar. Há ainda um sistema de lastro com água, que circula entre os pilares da plataforma triangular.
“Este método permite baixar imenso os custos de instalação. Não é necessário construir nenhum pilar no meio do mar para suportar a torre”, explica Luís Manuel. “Por outro lado, o facto de ser uma estrutura flutuante permite-nos colocar as torres em locais com profundidades muito superiores, onde o vento pode ser ainda mais forte.” No projeto experimental, o consórcio de que a EDP é acionista investiu 23 milhões de euros.
Sessenta empresas trabalharam nesta iniciativa, das quais 40 são portuguesas.
FEITA EM TERRA E MAIS BARATA
A tradicional produção eólica offshore (ou seja, no mar) tem vantagens e desvantagens. A parte boa: menos impacto visual, menos protestos ambientais e mais vento.
A parte má: custos de instalação elevados, resultantes da construção de pilares no fundo do mar e da colocação da turbina e das pás. Para o fazer, as empresas elétricas necessitam de alugar equipamento normalmente usado pelas companhias petrolíferas para instalar plataformas petrolíferas os custos são astronómicos.
No caso do windfloat, toda a estrutura é feita em terra. Foi o caso da plataforma agora instalada ao largo da Póvoa de Varzim, integralmente construída num estaleiro, em Setúbal, e depois transportada por via marítima até ao local de amarração.
“No Mar do Norte, em regime tradicional, a produção de um megawatt-hora fica por cerca de 200 euros; aqui, estimamos um custo inferior a 100 euros”, explica Luís Manuel. Por outro lado, o facto de se tratar de um sistema flutuante permite a sua colocação em zonas mais profundas e mais distantes da costa. “Até aos 200 metros de profundidade julgamos que não haverá problemas”, vaticina Luís Manuel.
A colocação da plataforma neste local específico deveu-se à preexistência de um cabo submarino, que ligava antigos projetos de produção de eletricidade a partir das ondas até a uma subestação no litoral.
“Os outros planos falharam mas esperamos que este seja rentável, o que seria ótimo para a região e para o País”, defende Sérgio Cardoso, 63 anos, presidente da Junta de Freguesia da Aguçadoura.
Cinco a seis vezes por mês, uma equipa da empresa Multisub faz vistorias da plataforma.
“Mergulhamos até 45 metros, para fazer a manutenção do cabo elétrico e das amarrações”, explica Paulo Martins, 49 anos, responsável da empresa. Parte dos trabalhos de monitorização são também realizados através de um ROV, um minissubmarino sem tripulação.
A energia produzida no windfloat é transportada até à subestação da Aguçadoura.
Aqui é transformada e injetada na rede. Um sistema de computadores controla parâmetros importantes para a produção, como a altura das ondas, a intensidade e direção do vento. “Os dados que temos são promissores”, avança João Maciel, 34 anos, diretor de desenvolvimento tecnológico da EDP Inovação. “Estamos prontos para o passo seguinte.” Está assim facilitado o day after do projeto: a construção de um parque offshore com cinco torres e, eventualmente, com turbinas maiores (de três a sete megawatts, em vez de dois, como é o caso da unidade experimental). O empreendimento já tem um lugar reservado em alto-mar uma zona da costa, ao largo de São Pedro Moel, na Marinha Grande.