Neste Dia Mundial do Ambiente, em plena crise financeira que engole os nossos tempos, há uma reflexão que se exige e que deve espelhar a articulação necessária entre o estado geral do ambiente e a vida das pessoas.
Essa deve e está a ser uma preocupação das associações ambientalistas, que vêm a sua área de intervenção muitas vezes ser relegada para planos secundários, muitas vezes utilizada apenas como adorno, apesar de se reconhecer universalmente a importância de um ambiente de qualidade para haver uma vida com qualidade.
E se de repente houvesse uma resposta simples, mas determinada, óbvia mas até agora quase impronunciável, para combater a crise que atravessamos? E se a resposta à elevadíssima taxa de desemprego fosse a criação de emprego verde? Um programa, não nacional, mas pelo menos europeu, de criação de milhões de empregos numa economia verde que, apesar de muito propagandeada, até hoje está longe de ser implementada? E se os fundos de coesão da União Europeia fossem aplicados na criação de uma bóia de salvação, não só para as pessoas, mas mesmo para o ambiente na Europa?
As propostas até agora avançadas na Europa, nomeadamente as vindas do Ministério da Economia alemão, vão no sentido contrário a esta ideia. Há proposta de tornar a zona mediterrânica da UE num modelo de “zonas económicas especiais”, similar ao que ocorre na China, tentando atrair investimento com a eliminação da legislação laboral e de defesa do ambiente.
Esta proposta é inaceitável para os movimentos ambientalistas. Eliminar a legislação do ambiente ou fragilizá-la vai contra todos os compromissos assumidos nas últimas décadas e aponta um rumo de insustentabilidade que põe em perigo não só a natureza como todas as vertentes da actividade humana, que a ela estão associadas. A zona mediterrânica da Europa é, para além disso, o maior reservatório de biodiversidade do continente, o que torna ainda mais irracional avançar sequer com tal proposta.
Uma estratégia europeia de criação de emprego verde, um “New Green Deal“, similar ao que ocorreu após a Grande Depressão dos anos 30 do século passado, é uma das poucas luzes ao fundo do túnel para os dias de hoje. Mas estes empregos verdes não poderão ser apenas de fachada verde, com o apoio a energias que são renováveis apenas no nome, como as barragens, ou no desenvolvimento de tecnologias que, apesar de serem desenvolvidas sob o epíteto de “verde” não o são – como os biocombustíveis. As apostas devem ser na conservação da natureza, na vigilância de parques e áreas protegidas, no reforço de redes de transportes colectivos sustentáveis e pouco poluidores, num reforço na reciclagem e reutilização de resíduos, na aplicação de técnicas avançadas na construção e, principalmente na recuperação dos milhares de fogos que abundam por todo o país.
Na agricultura, os apoios europeus devem focar-se no desenvolvimento de uma agricultura forte, sustentável, e verde – dando, sim, enfoques positivos à agricultura extensiva, que cria mais empregos; a técnicas diversificadas e inteligentes, que não baseiem todo o processo agrícola na introdução de inputs inorgânicos e caros. Na floresta, a adaptação aos climas deve suplantar as práticas de monoculturas com espécies exóticas que degradam solos e alteram microclimas, constituindo verdadeiros desertos verdes. Na pesca, um apoio à pesca de pequena escala, com muitas pequenas embarcações, especializada para determinadas espécies, com estabelecimento de santuários de pesca, que devem também ser protegidos e vigiados. E a aposta segura na investigação para a sustentabilidade ambiental – mas não uma sustentabilidade apenas de nome, mas uma sustentabilidade real, em que não só não se degrade o ambiente e os ecossistemas, mas inclusivamente em que os mesmos saiam beneficiados. Temos todas as ferramentas para tornar esta ideia uma realidade.
A OIT publicou recentemente um estudo em que estima que a aposta na Economia Verde possa gerar entre 15 e 60 milhões de postos de trabalho nos próximos anos. Esta, ao contrário de outras de que se fala, é uma verdadeira oportunidade da crise. Acabemos com esta crise, saindo por cima. Apostemos num futuro melhor, num futuro verde.