A Liga para a Proteção da Natureza (LPN) inicia hoje a sua participação na Visão Verde, num espaço que quer dedicado a divulgar as posições da associação relativamente aos temas atuais de conservação da natureza e ambiente, e também a fazer com que todos possamos refletir e decidir sobre o futuro do nosso planeta!
Neste momento está iminente a destruição do vale do Tua, um dos últimos rios selvagens da Europa e um dos mais belos de Portugal. A LPN deixa aos leitores uma parte do manifesto que várias associações de defesa do Rio Tua abriram à subscrição inicial por individualidades da nossa sociedade dos mundos da ciência, da cultura, da economia, da política e da cidadania.
A LPN, juntamente com outras associações ambientalistas e de cidadania defende a paragem imediata das obras em Foz Tua, antes que sejam cometidos ainda mais danos irreparáveis sobre um património de elevado valor social, ecológico e económico, parte da nossa herança cultural e identidade nacional. Porquê? Há sete razões principais:
1. Não cumpre os objetivos. Foz Tua faz parte do Programa Nacional de Barragens, que produziria no seu conjunto 0,5% da energia gasta em Portugal (3% da eletricidade), reduzindo apenas 0,7% das importações de energia e 0,7% das emissões de gases de efeito de estufa. Foz Tua contribuiria com uns míseros 0,1% da energia do País (0,6% da eletricidade), evitando 0,1% das emissões e das importações de energia.
2. É inútil. As metas do Programa já foram ultrapassadas com os reforços de potência em curso: a curto prazo disporemos no total de 7020 MW hidroelétricos instalados (o Programa pretendia alcançar os 7000 MW), dos quais 2510 MW equipados com bombagem (o Programa previa chegar a 2000 MW), sem nenhuma barragem nova.
3. É cara. As novas barragens, se avançarem, custarão cerca de 16 000 milhões de euros, que os cidadãos vão pagar na fatura elétrica e nos impostos – uma média 1600 euros por português. Com estas barragens, durante os 75 anos das concessões, as famílias e empresas pagarão uma eletricidade 10% mais cara (em cima dos aumentos já previstos), a favor das empresas elétricas, grandes construtoras e banca.
4. Há alternativas melhores. Todos os objetivos de política energética podem ser cumpridos de forma muito mais eficaz e mais barata com opções alternativas, destacando-se duas medidas: (i) investimentos em eficiência energética, com custo por kWh 10 (dez) vezes menor que novas barragens; e (ii) reforço de potência das barragens existentes, com custo por kWh 5 (cinco) vezes menor que novas barragens.
5. É um atentado cultural. A albufeira de Foz Tua destruirá a centenária linha ferroviária do Tua, um vale com paisagens naturais e humanas de rara beleza, com elevado valor patrimonial e turístico, e põe já hoje em causa a classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património da Humanidade – dificilmente a UNESCO irá tolerar a desfaçatez e a insensibilidade demonstradas pelo Estado Português e pela EDP.
6. É um atentado ambiental. A albufeira de Foz Tua destruirá irreversivelmente solos agrícolas e habitats ribeirinhos raros, porá em risco espécies ameaçadas e protegidas, criará riscos adicionais de erosão no litoral devido à retenção de areias, e provocará inevitavelmente a degradação da qualidade da água.
7. É um atentado social. A barragem será o fim das comunidades já empobrecidas do Tua, e mais um golpe nas perspetivas de desenvolvimento de Trás-os-Montes, pela perda da mobilidade ferroviária e de produtos turísticos valiosos como os desportos de águas brancas e a ferrovia de montanha. Criar um emprego permanente no turismo é 11 (onze) vezes mais barato que um emprego na barragem. As migalhas espalhadas pela EDP nunca compensarão a destruição dos valores e identidade desta maravilhosa região.
O Manifesto pelo Tua, como foi designado, está aberto à subscrição pública e convidamos toda a gente a juntar o seu nome a esta iniciativa, enviado o seu nome e informações que considere relevantes para o endereço eletrónico manifestopelotua@gmail.com. Vamos salvar o Tua!
A LPN, em nome das Associações e Organizações Não-Governamentais do Ambiente, solicitou uma audiência ao Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, tendo como tema único da agenda o Plano Nacional de Barragens e a Barragem do Tua em concreto.