Confesso sentir uma certa tristeza e revolta quando leio artigos que me dão notícia de alguns tristes atentados ao nosso património natural. Entre os mais recentes, não de cronologia de acontecimento mas do meu contacto com os mesmos, estão a intervenção não autorizada do exército em S. Jacinto e o abate selvagem de árvores no Buçaco.
Portugal ainda possui um património natural lindíssimo. Mesmo com todos os ataques à nossa floresta por parte de incendiários (intencionais ou negligentes), ainda há muito de bonito a preservar. No entanto, lá vamos conseguindo colocar a nossa criatividade a trabalhar para o pior e lá arranjamos outro PIN ou outros interesses, nacionais ou pessoais, para desproteger o que é nosso.
Poucos são os que quando colocados perante exemplos de beleza natural não a apreciam verdadeiramente. No entanto não são poucos os que veem na mesma uma forma de retirar proveito para si próprios. Quer sejam privados ou públicos, construtores ou madeireiros, governantes ou autarcas, poucos são aqueles que parecem perceber que se formos tirando um bocadinho aqui e ali, em breve não teremos um hectare de território que não tenha uma qualquer construção embutida ou que não esteja despido de vegetação natural.
O turismo, e a economia que dele advém, costuma ser um dos argumentos favoritos para a aprovação de projetos em cima de zonas protegidas. Mas será que não percebemos que o que atrai as pessoas no nosso país não são torres de apartamentos como em Armação de Pera e Quarteira mas sim a beleza natural do nosso país e o clima que o acompanha?
Podemos queixar-nos dos governantes de Portugal, mas fazê-lo como se de terceiros se tratasse é um engano. Somos nós os governantes deste país. Somos nós os responsáveis pela importância que se dá ao ambiente e ao nosso património natural. O Ministério do Ambiente e do Ordenamento do Território, a Secretaria de Estado do Ambiente, o Instituto da Conservação da Natureza e da Biodiversidade são instrumentos da gestão e proteção do ambiente, ou deveriam sê-lo. Mas estes organismos têm pouco peso no quadro geral do governo por nossa culpa. A importância que cada organismo governamental tem é um reflexo da importância que cada português dá ao que são as suas competências.
Num passado recente, um grupo de cidadãos de uma cidade juntou-se para pensá-la. Um grupo que, teoricamente e de acordo com o organizador da iniciativa, teria formação em diferentes áreas importantes à sociedade, e uma consciência que lhes permitiria refletir sobre o que seriam as necessidades dos seus concidadãos. Quando se tentou introduzir a temática do ambiente, pérolas de sabedoria como “isso do aquecimento global é uma moda e um lobby para encher os bolsos de alguns”, “se for preciso poluir e sujar para que as pessoas sejam felizes eu faço-o” foram proferidas. Este grupo retrata muito do que nós ainda somos. Estas são as mesmas pessoas que, se lhes for dada a oportunidade, decidem o abate de hectares de floresta ou o envio de maquinaria pesada para um pedaço de paraíso como é a Mata Nacional do Buçaco.
Costuma-se dizer que é nas novas gerações que está a esperança. O que poderá ser considerado um cliché, neste caso pode ser que seja a realidade. Com cada vez mais frequência vejo os mais novos (como o meu sobrinho, com os seus 10 anos) a obrigar os pais a separarem os resíduos e a fecharem torneiras, a não tolerarem lixo no seu património natural. Esperemos apenas que tenham algum desse património ainda intacto, quando chegarem à idade de o herdar.