António Mexia, presidente executivo da EDP, foi mostrar os resultados do projecto-piloto desenvolvido no Campo de Refugiados de Kakuma ao longo do último ano. Foi cumprir o compromisso assumido em Setembro de 2009, quando, em conjunto com António Guterres, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, prometeu testar soluções energéticas e ambientais, capazes de melhorar as condições de vida de milhões de refugiados em todo o mundo.
Em Kakuma, a EDP instalou painéis solares e com eles criou condições para: iluminar ruas, habitações, escolas, hospitais; irrigar pequenas hortas; reflorestar. Levou fornos solares, lanternas solares; purificadores de água; instalou lâmpadas eficientes.
Mais do que equipamentos, a EDP conseguiu com este projecto demonstrar que a energia renovável garante soluções para alguns dos maiores problemas de um campo de refugiados. A lenha e o diesel são os únicos combustíveis disponíveis. São caros e raros.
Os 30 fornos solares e os purificadores de água diminuem a necessidade de percorrer quilómetros à procura de lenha ou água potável, diminui os riscos de ataques violentos durante estas caminhadas, reduz a deflorestação, aumenta o rendimento disponível e cria pequenas oportunidades de negócio. Os fornos são utilizados em restaurantes improvisados.
Os 31 postes de iluminação são uma novidade em Kakuma e na comunidade vizinha do campo. Trazem segurança e luz eléctrica a algumas habitações. Painéis solares instalados em 13 instituições asseguram a fiabilidade do abastecimento, reduzem custos e aumentam a eficiência. Um bomba de irrigação movida a energia solar serve de base a pequenas plantações de vegetais. Uma ajuda preciosa para reforçar a frágil dieta alimentar das famílias e mais uma oportunidade de gerar pequenos rendimentos. Serve também para reflorestar um território árido e devastado pela pressão populacional.
No campo há milhares de crianças. A educação é essencial. Existe apenas uma única escola secundária. Tem 800 alunos. Poucos terão oportunidade de ganhar uma bolsa para a universidade e sair do campo. Para aumentar as hipóteses dos que conseguiram chegar aqui, a EDP distribuiu 4.500 lanternas solares, privilegiando as raparigas, em clara minoria na escola. Para estes jovens, a lanterna garante uma ou duas horas adicionais de estudo à noite. E isso pode fazer toda a diferença. Pode mudar vidas.
ALIMENTAR A ESPERANÇA EM KAKUMA
No campo de refugiados de Kakuma, no norte do Quénia, a escassos 100 quilómetros da fronteira com o Sudão, há mais de 75 mil pessoas. Desde o início da década de 90 que não param de chegar. Vêm do Sudão, da Somália, da República Democrática do Congo, do Uganda, Ruanda, do Burundi. Fogem para salvar a vida. Chegam sem nada. Recebem protecção do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e alguns alimentos básicos duas vezes por mês. Têm acesso a água e espaços para construir abrigos, pequenas casas de palha. Ainda assim, falta-lhes quase tudo. Na maior parte dos casos, estarão condenados a viver ali para sempre.
O campo não é vedado, mas as barreiras existem. Os refugiados são uma espécie de prisioneiros. Não podem sair, partir em busca de uma vida melhor. Voltar aos países de origem é missão quase impossível. Os conflitos armados são uma constante naquela zona de África. No Quénia, não lhes são reconhecidos direitos de cidadania e são muito poucos os países disponíveis para acolher e renaturalizar refugiados.
Resta-lhes a luta pela sobrevivência diária e a esperança num futuro melhor.
É impossível visitar Kakuma sem ficar esmagado pela capacidade de resistir, lutar, acreditar daqueles milhares de homens, mulheres e crianças.
A EDP não podia ficar indiferente. Aliou-se à ACNUR e abraçou esta causa. Porque, como explica António Mexia, presidente executivo da EDP, “uma empresa com ambição global tem de ter também responsabilidade global”.