Neste Dia Mundial das Cidades, estabelecido pelas Nações Unidas (UN-Habitat), em 2014, com o objetivo de promover o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 11, da Agenda 2030, quero recordar a urgência de tornarmos os territórios urbanos mais resilientes e sustentáveis. Para isso, sabemos bem que a visão estratégica a implementar deve incluir as ações de adaptação e mitigação às alterações climáticas, bem como outros vetores estratégicos que se traduzam numa cidade saudável, inclusiva e circular. Em suma, cidades que proporcionem felicidade às pessoas, sentido de pertença, baseado numa forte identidade cultural e preservação ambiental.
Durante estes dias, ocorre um dos maiores eventos de sustentabilidade do País, o Planetiers World Gathering, em Aveiro, depois das primeiras duas edições em Lisboa, no qual parte da discussão se centra no Wellbeing Cities, promovendo a partilha de boas práticas e acima de tudo com o objetivo de estabelecer redes de parceiros e organizações que lideram projetos emergentes em diversos setores.
Por outro lado, ainda na semana passada, vimos concluído um dos projetos mais mobilizadores das cidades para as cidades, desenvolvido pela Direção-Geral do Território, a Iniciativa Nacional de Cidades Circulares, em que foram desenvolvidos um conjunto de projetos em rede, capazes de promover iniciativas de economia circular: da água, aos resíduos, passando pela construção e biodiversidade, trazendo às instituições de âmbito local a capacitação para a implementação de ações práticas e aplicadas ao território.
Num momento onde a redução e a captura das emissões são essenciais para atingir a neutralidade climática, é também preciso implementar processos de monitorização local, capazes de traduzir os planos municipais de ação climática em metas e objetivos, alinhados com as estratégias nacionais e internacionais. Algo que tenho defendido desde a publicação do livro A Missão das Cidades no combate às alterações climáticas, agora traduzido numa ação apoiada pela Fundação Calouste Gulbenkian, desenvolvida pela Get2C, designada para que sejam calculadas as contribuições determinadas regionais e locais, traduzindo esse cálculo, de cada região e cidade portuguesa num contributo efetivo para a neutralidade, no âmbito das metas definidas no Plano Nacional de Energia e Clima 2030 e no Roteiro para a Neutralidade Carbónica 2050.
Tudo isto obedece à necessidade de existir a tal visão estratégica, mas que devemos ver refletido no ordenamento do território, e ter o seu epílogo, em ações práticas e aplicadas nas empresas e organizações, nas quais se verifica uma transição climática e energética justa e célere, capazes de criar mais espaços verdes, aumentar a permeabilização dos solos, promover uma maior eficiência hídrica e energética, criar uma regeneração dos ecossistemas e promover a biodiversidade, investir na mobilidade suave e no transporte coletivo, produzir agroculturas urbanas sustentáveis de proximidade, implementar uma ecologística eficiente e neutra em carbono, entre tantas medidas que transformam as nossas cidades em melhores locais para viver e mais sustentáveis.
Oportunidades de financiamento não faltam e este é o momento para dar o “salto quântico” para a transformação das cidades. Desde o PRR ao PT2030, até à nova estrela, o programa New European Bauhaus, no final do dia, a pergunta que fica é: seremos capazes de medir o que cada euro investido trouxe de benefício para esta transição e internalizar como um ganho para todos? Este é o desafio. O de saber se estamos a ir na direção correta, ou se estamos a ir demasiado depressa na direção errada. Uma coisa é certa, estamos a entrar numa nova geração de cidades, e orgulha-me ver algumas cidades portuguesas a liderar essa transição.