O governo neozelandês propôs, esta semana, um ambicioso (e original) esquema para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa da agricultura. O plano, definido com a ajuda de representantes do setor, determina que os agricultores terão de passar a pagar pelas emissões das suas atividades a partir de 2025.
A produção de carne, sobretudo bovina mas também ovina, é uma das maiores responsáveis pela emissão de metano. No caso da Nova Zelândia, quase metade das suas emissões provêm do setor agrícola, sendo a maior parte libertada sob a forma de arrotos, durante a digestão das vacas (uma parte menos substancial tem origem nos dejetos destes animais). Mas, até agora, a agricultura tem estado ausente do esquema de emissões do país.
“Não há dúvida de que precisamos de reduzir a quantidade de metano que estamos a libertar para a atmosfera, e de um sistema eficaz de cálculo para o preço das emissões da agricultura desempenhará um papel fundamental nesse caminho”, disse o ministro para as Alterações Climáticas da Nova Zelândia, James Shaw. Se o plano for aprovado, como é expectável, a Nova Zelândia tornar-se-á o primeiro país do mundo a taxar as emissões dos animais de quinta.
Esta proposta, que será votada em dezembro, passa também por incentivar os agricultores a usarem aditivos na alimentação dos animais, já disponíveis comercialmente, que reduzem a produção de metano, durante a digestão. Têm sido, igualmente, realizadas experiências bem-sucedidas com alimentos alternativos, como algas. Um estudo de investigadores da Universidade da Califórnia publicado na revista científica PLOS ONE concluiu que a adição de algas marinhas à alimentação do gado pode reduzir as emissões de gás metano dos animais até 82%. Num estudo anterior, feito com vacas leiteiras, as emissões haviam caído 30%, mesmo com quantidades muito pequenas de algas misturadas na alimentação.
Outra forma que os agricultores têm de compensar as emissões das vacas e dos borregos é plantando árvores nas propriedades agrícolas.
Este plano dará um grande contributo para a redução de gases com efeito de estufa da Nova Zelândia. O país, recorde-se, foi um dos mais de 100 países que se comprometeram a reduzir em 30% as emissões de metano, durante a Cimeira do Clima de Glasgow, em novembro.
Apesar de ser um pequeno país, com 5,1 milhões de habitantes (metade da população portuguesa), a Nova Zelândia é um dos maiores produtores e exportadores mundiais de carne, tendo muito mais animais de produção do que humanos. Segundo as estatísticas oficiais, o país tinha 10,1 milhões de bovinos e 26,8 milhões de ovelhas. Ou seja, por cada neozelandês há duas vacas e cinco borregos.