Com o aquecimento global, a neve acumulada nas montanhas deveria derreter muito mais cedo durante a primavera, mas nos EUA isso só acontece em algumas regiões. O aumento da temperatura faz com que a neve comece a derreter um mês em algumas zonas, e noutras apenas uns dias.
Para explicar isto, uma equipa de investigadores da Instituição de Oceanografia de Scripps, da Universidade da Califórnia, juntou-se para desenvolver um modelo que identificasse as zonas mais afetadas por este aumento da temperatura, e porquê. O modelo foi aplicado também a outras regiões do mundo.
Com dados recolhidos entre 1982 e 2018, os investigadores concluíram que as montanhas das zonas costeiras são as mais afetadas pelas alterações climáticas, ao contrário das regiões do interior. Desta forma, a neve acumulada na Serra Nevada, Cascatas e nas montanhas do sul do Arizona é muito mais vulnerável ao aumento das temperaturas do que a neve das montanhas do estado de Utah.
“O aquecimento global não está a afetar todos os lugares do mesmo modo. À medida que se aproxima do oceano ou do sul dos EUA, a neve acumulada fica mais vulnerável, ou corre mais risco, devido ao aumento da temperatura, enquanto que no interior do continente a camada de neve parece muito mais resiliente ao aumento das temperaturas “, disse Amato Evan, principal autor do estudo. “A nossa teoria explica o porquê de isto estar a acontecer e, basicamente, mostra que a primavera está a chegar muito mais cedo se se estiver nos estados de Oregon, Califórnia, Washington ou no Sul, mas não se estiver no estado de Colorado ou de Utah.”
De acordo com a teoria, a neve vai começar a derreter significativamente mais cedo nas regiões costeiras, no Ártico, no oeste dos Estados Unidos, na Europa Central e na América do Sul, ao passo que no interior norte da América do Norte e na Eurásia a neve vai derreter quase na data prevista.
Neste estudo, publicado dia 1 de março na Nature Climate Change, a justificação para o que está a ser observado tem a ver com as variações de temperatura. Se houver uma variação maior entre o inverno e o verão, as montanhas sofrem menos com o aquecimento; quando as diferenças são menores, acontece o contrário e a neve derrete muito mais cedo.
Deste modo, um aumento de 1° C na temperatura média vai fazer com que a neve de algumas zonas costeiras, onde as temperaturas durante o ano são mais amenas, comece a derreter um mês antes, enquanto que uma subida igual nas montanhas do interior representa uma antecipação da data de derretimento por apenas um ou dois dias.
Por exemplo, numa região montanhosa do interior dos EUA, como as Montanhas Rochosas do Colorado, onde as temperaturas negativas prevalecem durante 6 meses, um aumento de 1° C pode fazer com que a neve derreta uns dias mais cedo.
Já nas zonas costeiras, onde a influência do oceano e da regulação térmica ajuda a manter as temperaturas de inverno mais amenas, isto é, com menos variação entre estações, a neve vai ficar acumulada menos tempo nas montanhas. Consequentemente, um aumento de 1° C pode fazer com que a neve derreta um mês antes do que devia.
Os dados utilizados para chegar a esta conclusão foram recolhidos de 400 locais diferentes nos EUA, pelo SNOTEL (relatório de chuva e precipitação do Serviço de Conservação dos Recursos Naturais), que se focam no desaparecimento da camada de neve quando chegava a primavera, e dados da NARR (Re-análise Regional da América do Norte), que mostram a temperatura média diária do ar na superfície e a precipitação.
Uma das regiões mais afetadas é o Ártico, onde a neve se acumula durante nove meses e leva cerca de três para derreter. O modelo sugere que o aquecimento de 1° C faria com que a neve derretesse uma semana antes do que era previsto. Este é um período de tempo bastante significativo uma vez que o Ártico é a região da Terra que está a aquecer mais rapidamente, uma consequência das alterações climáticas.