Por volta de 1800, a população de Lisboa não chegava a 200 mil almas e a esmagadora maioria dos portugueses vivia nos campos. O mesmo se passava no resto do mundo. Apenas 3 a 4% dos habitantes do planeta viviam em áreas urbanas. Como escreve o britânico Ben Wilson no seu livro Metrópoles (Edições Saída de Emergência), “as cidades têm sido sempre os laboratórios da Humanidade, as fábricas da História”. Sucede que estas acolhem já metade da espécie humana e estima-se que possam receber 68% até 2050, porque assistem à chegada de 200 mil novas pessoas diariamente. Este fenómeno de vertiginosa urbanização e verticalização – a construção de arranha-céus quadruplicou desde o início do século e, dentro de duas décadas, deverão existir mais de 40 mil edifícios com uma altura superior a 150 metros – tem custos óbvios.

Medellín, a refrescante
A segunda maior metrópole da Colômbia quer fazer jus ao seu título de “Cidade das Flores e da Eterna Primavera”. Para combater as vagas de calor e melhorar a qualidade de vida dos seus 2,6 milhões de habitantes, foram criadas três dezenas de “corredores verdes” e de parques com árvores e plantas nativas, que já permitiram baixar dois graus centígrados as temperaturas médias (o objetivo é serem cinco até 2030).
As cidades, e a selva de betão que lhes está associada, são responsáveis por cerca de 70% dos detritos e da poluição ao nível global, além de consumirem quase 80% da energia e serem palco da maioria dos 12,6 milhões de óbitos anuais precoces, por causas evitáveis, de acordo com as Nações Unidas e várias organizações não governamentais. Ben Wilson, na obra que publicou no início da pandemia, resumiu magistralmente o que está em causa: “Dois terços das maiores metrópoles com mais de cinco milhões de habitantes, incluindo Hong Kong, Nova Iorque, Xangai, Jacarta e Lagos, estão em risco com a ameaça da subida do nível do mar; muitas outras estão a ‘assar’, enquanto as temperaturas sobem descontroladamente, e são alvo de tempestades destrutivas. As nossas cidades estão na linha da frente da catástrofe ambiental iminente; por essa mesma razão, podem estar também na frente da mitigação dos efeitos das alterações climáticas.”