Diz a Wikipedia que Raw “é uma denominação genérica de formatos de arquivos de imagens digitais que contém a totalidade dos dados da imagem tal como captada pelo sensor da câmara fotográfica. O formato Raw não tem aplicado nele nenhum tipo de compressão, os fabricantes de câmaras fotográficas fazem isso para evitar perda de qualidade nas fotos, porque quando compactamos uma foto ela perde qualidade na resolução.”
É dessa palavra, escrita a branco sobre um fundo preto na sua t-shirt, que se torna difícil desviar os olhos assim que Joel Santos sobe ao palco para perorar sobre as Raízes do Futuro. “Estamos cada vez mais ligados, mais online, mas desligados daquilo que fomos”, lamenta, em jeito de introdução. Para este fotógrafo profissional, é importante ir ao passado para tirar pensamentos que podem ajudar a imaginar o futuro.
E da t-shirt, desviamos toda a atenção para as imagens de cortar a respiração que começam agora a ser projetadas no teto abobadado do Planetário. O conforto das cadeiras, meias deitadas, é perfeito para apreciar as fotografias do Sudão do Sul enquanto se ouve a deliciosa história contada por Joel Santos acerca deste “microcosmos de um país remoto”, aonde passou bastante tempo para conseguir captar as imagens de simbiose entre humanos e animais.
Joel habitou este acampamento de vacas, o maior ativo da região, com grande proximidade. E conta que lá se pegam nos excrementos, que depois são acumulados em pilhas antes de serem incinerados. O pó daí resultante espalha-se pelo chão para proteger as vacas dos mosquitos. Além disso, exploram-se todas as suas propriedades medicinais.
Mudar a forma de ver
“Muitas vezes, as decisões sobre o futuro estão afuniladas pela nossa realidade. Temos de aceitar a diversidade, a diferença, com humildade. Caminhar rumo ao futuro também é perceber que nem sempre as nossas perspetivas são as mais corretas”, nota Joel Santos. É com este pensamento no ar que mostra uma série de fotografias tiradas em Portugal, que nem parecem tiradas em Portugal.
Trata-se de uma série de ilhas vulcânicas, do Corvo a Porto Santo, retratadas de forma impressionante. “Quando mudamos de ponto de vista, a perspetiva é muito diferente.”
Joel sonha bastante com o seu futuro e já tem algumas certezas – ele terá de passar pelo equlíbrio, com o estar na natureza sem grandes intromissões. “Há um problema de base: nós criámos um desequilíbrio que agora vai dar muito trabalho a resolvê-lo.”
A última imagem mostrada do auditório do Planetário mostra uma atleta madeirense, em pose de equlíbrio perfeito, com a natureza em fundo. Com ela, o seu autor quis passar uma mensagem de paz de espírito, desejando que nos tornemos mais próximos, mais humanos.