Bernardo Pires de Lima recuou no tempo até 2008 e 2009, altura em que, do seu ponto de vista, se começa a dar “a transformação” que altera o modelo de forças sociais e políticas, à escala global, que saiu da Guerra Fria. Os movimentos anti-democráticos começam, a partir daqui, um percurso ascendente que, hoje, coloca em risco as liberdades, um diagnóstico também partilhado por Pedro Marques Lopes.
Foi, precisamente, este o ponto de partida para a conversa sobre os Riscos para a Democracia, que juntou os dois colunistas regulares da VISÃO, numa conversa moderada por Rui Tavares Guedes, diretor adjunto da VISÃO. Divergências, apenas, quanto ao futuro do problema: enquanto Pires de Lima confia que as democracias liberais “têm as ‘ferramentas’ necessárias” para fazer face às ameaças e aos desafios com que se deparam, Marques Lopes assume-se “pessimista” e “preocupado”, alertando para os “perigos” crescentes para este modelo.
Entre os vários sintomas identificados, como a “deslegitimização dos adversários”, “a vitória da mentira sobre a verdade” ou “a incapacidade de serem encontrados consensos políticos entre forças partidárias tradicionais”, destacam-se as redes sociais que continuam a ser apontadas como o principal “rastilho” para o crescimento da desinformação e do discurso de ódio que alimenta os movimentos anti-democráticos – nomeadamente do espectro da extrema-direita.
Perante a polarização da realidade social e política – que encontra exemplos nos Estados Unidos da América ou no Brasil, mas a que Portugal também não é alheio –, os palestrantes são unânimes em considerar que o centro-direita corre o risco de… se render.

“O maior risco para as democracias liberais ocidentais é a direita moderada ser capturada pela extrema-direita. Essa é a preocupação que devem ter todos os democratas”, afirmou Pedro Marques Lopes, para quem, em Portugal, a corrida ao poder não pode justificar ‘fechar os olhos’ aos valores conquistados no 25 de Abril. “O chão comum é fundamental. Deixarmos de ter pontos com o outro é um risco enorme para a democracia portuguesa”, sublinhou.
Bernardo Pires Lima destacou, igualmente, essa “canibalização”, confirmada com os exemplos da fragmentação da direita tradicional, que deram origem a movimentos radicais, como nos casos espanhol de Santiago Abascal (ex-Partido Popular), italiano com Giorgia Meloni (ex-Forza Italia) ou até… português de André Ventura (ex-PSD). “É preocupante”, referiu, antecipando que “tudo aponta para que no próximo ciclo político se verifique em Portugal o que já aconteceu noutros países”.
O exercício de prognóstico político não deixa margem para dúvidas: o PSD vai contar com o Chega para ser “muleta” e regressar ao poder (como, ainda recentemente, aconteceu com a solução governativa na Suécia, que contou com o Democratas Suecos – SD)? O futuro nos dirá…
