Conhecemo-la bem como a cómica Vani da série Os Normais. Fernanda Torres, 52 anos, filha de Fernanda Montenegro, é atriz com A maior… que surpreendeu com um belo romance de estreia, Fim (2013). Este segundo romance corresponde às expectativas, uma história desenvolta sobre um ator em decadência. “Catástrofes vêm em cardume”, lê-se. A vida é uma telenovela, é o que é.
Porque adotou, aqui, uma outra voz masculina, a de Mario Cardoso, ator de meia-idade caído em desgraça?
Desde Fim, a voz masculina surgiu naturalmente. Os personagens masculinos afastam-me de mim, da escrita confessional. Como sou atriz, e escrevo na primeira pessoa para jornais e revistas, a alteração de género ajuda-me a entrar na ficção, salva-me da identificação direta. Uma segunda razão é o facto de eu ter uma tendência ácida, quase cruel, na maneira de tratar os meus personagens. Gosto de seus equívocos e sinto-me mais livre para exercer essa acidez com os homens. As mulheres estão passando por um momento de afirmação de seus direitos, seria mais delicado apontar as falhas e os maus caminhos numa mulher.