‘Quem ganhou?” É esta a pergunta que encerra o vídeo em que uma mãe gaba as suas técnicas pouco ortodoxas para travar as birras da filha de 3 anos. Joana Mascarenhas, uma influencer até aqui pouco conhecida, cometeu dois erros gravíssimos. O primeiro foi ter submergido a filha na piscina, ainda de farda vestida, para que parasse de chorar. O segundo foi ter contado tudo na net. As autoridades certamente preferiam que este passasse a ser o modus operandi de todas as pessoas perturbadas. Era só passar a tarde no Instagram: “Olha, aqui o Artur_1902 diz que bateu na mulher e a fechou na arrecadação, é melhor irmos lá…” Um dos aspectos mais desconcertantes do tal vídeo é o tom ufano da mãe, como se fosse Vladimir Putin a reclamar vitória na Região Leste da Ucrânia. Ganhar uma batalha a uma criança de 3 anos, quando temos 40, é, convenhamos, canja. Esta mãe provavelmente ouvia aquela expressão “é como roubar um doce a uma criança” e pensava “quase tão complexo como aquele assalto do Ocean’s Eleven”. É desde logo absurdo que uma adulta meça forças com uma criança, como se tivessem a mesma idade, mas eu estou desconfiada de que têm mesmo. E não é a criança que é muito madura para os seus 3 anos… É que só uma idade mental muito jovem desta mãe pode explicar uma certa candura, ao relatar estes episódios sem pensar duas vezes. Não se trata apenas de não perceber nada de parentalidade. É também desconhecer tudo sobre influencing. A regra de ouro de quem faz do Instagram a sua vida, usando precisamente a sua vida, é ser “relatable”, isto é, falar de assuntos com que os outros se relacionem. Será que Joana Mascarenhas pensou mesmo que, ao contar que dá duches de água fria à filha quando esta chora às cinco da manhã, teria imensos comentários de outras mães, partilhando dicas de torturas de Guantánamo? “Fiz waterboarding ao meu Afonso e foi remédio santo, nunca mais chorou.” Já para não falar que está a cantar vitória demasiado cedo. Isto com os filhos é uma maratona, nunca um sprint. Essa criança vai crescer (com um medo “inexplicável” de água, mas vai) e terá oportunidade de escolher o “melhor” lar para os seus progenitores. Agora é rezar para que ela esqueça esta “experiência imersiva” proporcionada pela sua querida mãe. E que nunca tenha acesso ao vídeo em que a encarregada de educação diz “tirei-lhe o foco da birra que ela estava a tentar ganhar… olha com quem, com uma taurina!” Deve ser chocante descobrir que a nossa mãe nos educou com base no horóscopo. Este episódio foi, ao mesmo tempo, refrescante – e não me refiro à temperatura da água – porque criticamos sempre quem exibe vidas perfeitas no Instagram e finalmente surge alguém que mostra uma vida horrível, pelo menos para a filha. No entanto, foi criticada também. Decidam-se. É-se preso por ter cão e preso por não ter. E esperemos que a senhora não tenha, senão o mais certo é também ir parar a uma banheira com gelo, se ladrar no período nocturno.
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