Ao chegar a Lisboa, há cerca de duas semanas, tive a sensação de estar a viver de novo a experiência juvenil da minha primeira chegada a Havana, a 20 de Janeiro de 1959, poucos dias depois do triunfo da revolução. Esta sensação vinha não só do Verão prematuro em Portugal, do odor a maresia trazido pelo vento e do ar de liberdade recente que se respirava por todo o lado, mas obedecia também a coincidências mais profundas. A influência negra é muito visível em Portugal através das colónias africanas e manifesta-se no próprio carácter dos portugueses, e todo o país está permeado pela música quente de Cabo Verde e Angola, que parece a música do nosso trópico. A moda da barba, que noutras épocas foi sinal de luta, seguem-na agora na metrópole as tropas repatriadas das colónias, como fizeram em Cuba os guerrilheiros da Sierra Maestra. E, também como eles, os soldados portugueses confraternizam com os civis por todo o lado, confundem- -se no quotidiano sem transtornos para nenhum dos lados e participam, sem armas, em trabalhos de rua que nada têm que ver com a guerra. No que mais se parece o Portugal de hoje com a Cuba de há 15 anos é, sem dúvida, no ambiente de bulício contagioso num país que não dorme. Um bulício como todos os dos trópicos, que têm tanto de festa como de incerteza. As janelas dos gabinetes públicos estão iluminadas a qualquer hora da noite.
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