Em jeito de namorado apaixonado, jovem romântico e carinhoso que sou, decidi oferecer à minha mais que tudo, uma viagenzinha pelo Japão. Viagenzinha fachabor, que a gente andou a calcorrear o Japão de uma ponta à outra – viagenzorra! E ainda por cima, feito estúpido, como o homem quer sempre impressionar, ofereci-me para acartar a mochila dela às minhas costas. Erro… Fica já o aviso que tudo o que vem descrito em baixo é feito com 30Kg de roupa suja e nécessaires às costas.
Saímos de Lisboa logo a seguir ao Natal. Toda a gente sabe como são os infindáveis almoços e jantares de Natal. Cheios de perus e bacalhaus acompanhados de filhoses e broas castelar. Pratadas e pratadas de açúcar seguidas de gordura, natas, batatas e regadas com uma bruta vinhaça. Todo este bouquet de iguarias traduz-se num efeito final. Chegámos a Tóquio, 18h00 depois da partida, envoltos numa nuvem de gás lacrimogéneo que atormentou fortemente a chinesa que vinha sentada ao meu lado esquerdo.
O impacto inicial foi surpreendentemente tranquilo. Eram sete da tarde no Japão, o aeroporto estava vazio e não houve qualquer espécie de confusão fronteiriça das que normalmente me atormentam. Seguindo os conselhos que nos haviam dado, em Lisboa, fomos imediatamente trocar os nossos Japan Rail Passes. O JR Pass, como é conhecido por lá, é uma espécie de bilhete de interrail japonês. Permite viajar por quase todo o país, sem pagar mais por isso. Mas só é vendido a turistas. A malta mal chega ao aeroporto deve ir trocar a reserva pelo próprio do passe. E a bicha era interminável. Japoneses irritados, por estarem a trabalhar no turno da noite, a berrar connosco. Nós a berrar com os espanhóis que vinham atrás e ainda percebiam menos daquilo. Os espanhóis, por sua vez, berravam uns com os outros qualquer coisa sobre chicos e margueritas. E por aí fora até chegarmos a um guichet onde nos mandaram voltar para trás para preencher papéis. Nada de novo quando se viaja num país asiático.
Apesar dos entraves da língua, lá conseguimos trocar os passes e seguir para o comboio expresso que nos levava até ao centro da cidade. Tóquio, como calculam, é uma cidade em tamanho XL. E o centro é um conceito simplesmente vago. Mas ao fim de três horas a contemplar um mapa das linhas de ferro nipónicas, lá optamos por um percurso que nos levava até à estação de Ueno. Atravessar Tóquio de metro em hora de ponta é como tentar tomar banho na Caparica em agosto. A única diferença é que tem mais Japoneses! Um calor que não se pode, ficamos horas a levar cotoveladas do vizinho do lado e no final só nos apetece ir tomar banho. Eu presenciei, com estes dois olhinhos que a terra há de comer, japoneses com o focinho esborrachado no vidro para caberem dentro do metro. Agora é imaginar o cenário.
Claro que passadas duas horas de termos chegado ao Japão, já estávamos perdidos no meio da rua com ar de bois a olhar para os letreiros néon. Completamente desorientados. Sem falar uma palavra da língua. E sem a mínima ideia de para onde é que nos deveríamos dirigir. Mímica para cá, mímica para lá. Ignorados aqui, mal compreendidos ali. Mas acabámos por conseguir chegar ao hotel que, apesar de central, estava relativamente bem escondido.
Depois desta odisseia estávamos esganados e cansados. E, acima de tudo, sem força de vontade. Se já tinha sido um filme chegar até aqui, o que seria agora encomendar comida num restaurante onde não se fala inglês. Eis se não quando, perdido nas brumas de um qualquer tubo de escape, surge uma miragem. Como qualquer turista desmotivado, fomos ao McDonald’s afogar-nos em colesterol. Ninguém se orgulha de o fazer, mas o que é facto é que toda a gente faz.
“Ai mas que falta de graça. Acabados de chegar ao Japão e vão-se enfiar no Mac.” É o género de comentário que nos esperava. Mas estávamo-nos nas tintas. Cheios de fome e cheios de sono. Com a viagem toda pela frente… Que se lixe! Vamos comer toda a espécie de bichinhos na mesma. Por isso marimbámos no assunto. Hamburgerzinho no bucho e dissemos às mãezinhas preocupadas que tínhamos comido um sushi ótimo.
Cansados mas felizes, tínhamos ainda a viagem toda pela frente. Fomos para o hotel descansar deste fim de dia atribulado. E quando achávamos que a coisa não poderia melhorar, entra o “filha da mãe” do jet lag. Com nove horas de diferença para Portugal, tínhamos os sonos todos trocados. Dormimos duas horinhas e acordámos prontos para o turismo.
Continua…