Viajar. Descobrir. Sentir na pele, olhos e demais corpo, o mundo. Não se trata de conhecer os lugares mas de conhecermos algo que somos. A nossa inultrapassável humanidade. Descobrir-se é a parte mais forte deste viajar. Quem somos? Só somos quando nos afirmamos, quando decidimos ser. Lembro-me do tempo em que corri a encontrar uma concordância no que penso da vida. Mas só aqui, nas margens do mundo e da vida, se confirmou quem sou. É dentro do que sou que Portugal reapareceu. Flutuante e incerto, mas sempre Portugal. Os meus pés já tocam o chão de sempre mas ainda não sou eu quem o piso. A perspectiva mudou-me e as histórias que contamos neste blog e no regressar não são suficientes para voltar. Há um lado em mim que nunca irá terminar.
Miguel
O Homem Que Era
“Uma criatura de nervos modernos, de inteligência sem cortinas, de sensibilidade acordada, tem a obrigação cerebral de mudar de opinião e de certeza várias vezes no mesmo dia”
Fernando Pessoa, In “Crónica da vida que passa…”
Raramente cito. Mais por nenhuma razão do que alguma que tente inventar. Mas estar dentro de um regresso é mais do que sei de mim. Não sou só uma pessoa, isso seria pouco para tudo o que vivi. Não sou só imaginação, isso seria pouco para definir as gentes que agora me pertencem. Não sou só um desejo, isso seria pouco para dizer tudo o que ainda quero. É que quando penso no deserto não me encho de areia, quando falo de selva não são árvores que descrevo, quando digo cidade não é de trânsito que me lembro. Deserto podem ser as rugas fundas dos que vivem longe de si; Selva o esmagar lento de sons e verde; Cidade pedras de tempos que já não existem. Agora que cheguei deixei de ser apenas eu. É nesse transbordar dos meus contornos que vou voltar a desenhar-me. Sabendo sempre que amanhã posso ter outra opinião.
Clara