Se já achávamos incomodativa toda a euforia vivida na cidade do Euro, mal sabíamos nós o que nos esperava em Berlim. Bastou querer ver o Portão de Brandeburgo para percebemos que os alemães vivem os campeonatos internacionais de futebol como se jogassem em casa e que o apoio, ainda que ao longe, é incondicional, ou não fosse a seleção alemã uma das mais fortes candidatas ao título, ano após ano.
E escrevo “querer ver” porque, de facto, nos dois dias que tentamos, pouco ou nada vimos do Portão, que foi engolido por um ecrã (realmente) gigante, onde foram transmitidos todos os jogos do Euro’12.
Mas, se na primeira tentativa, achamos apenas que a confusão que ali se instalava era caótica e nada atrativa, na segunda vez que lá passamos (dia de jogo dos da casa) podemos verificar que o espírito vivido ao longo do passeio de Tiergarten, que nos leva até ao Portão, acabava por ser fascinante. E, no fundo, os três títulos de campeã europeia de futebol (dois deles ainda antes da queda do Muro de Berlim) justificam a fé e o orgulho em torno de uma pátria ferida pela sua história.
Era mais ou menos um quilómetro, enfeitado com cerca de 10 ecrãs gigantes, vestido de amarelo, vermelho e preto, que durante a tarde se foi enchendo com milhares de pessoas, trajadas a rigor (e aqui entenda-se que “a rigor” pressupõe usar todos os acessórios relativos à seleção, pintar a cara o mais possível com as cores nacionais e não esquecer da cerveja na mão), que ora de pé, ora sentadas no alcatrão quente, procuravam o melhor lugar para passar o final do dia, acompanhando e apoiando incessantemente a Alemanha, seleção com mais golos marcados na história do Euro, que acabou, este ano, por não lhes dar tantas alegrias como o desejado.
Este revelava-se ainda, como em tantos outros países europeus, o local e o dia ideais para o negócio. Quer fosse nas habituais barraquinhas de comes e bebes, quer na venda de camisolas, cachecóis ou chapéus, para os que, pela primeira vez, queriam apoiar a seleção, ou para os mais distraídos que deixaram os acessórios em casa. Nem as casas-de-banho portáteis escaparam, que por cinquenta cêntimos estavam sempre (minimamente) limpas e tinham direito a papel higiénico.